Franciscanos na Paraíba

          1. Passando, faz pouco mais de uma semana, por João Pessoa, entrei numa lojinha de artesanato. Atendeu-me, com presteza e comovente delicadeza, um senhor de barba farta e o rosto de um capuchinho. Lembrei-me imediatamente de Frei Damião porque o senhor dono da loja era meio-corcunda, baixinho e da cor de um italiano.
          2. Eu procurava pequenas imagens de Francisco de Assis para enriquecer minha coleção que já conta com mais de oitenta são-francisquinhos e me perdoem o diminutivo, dito, porém, com respeito e renovado carinho. 
          3. Eu tenho são-francisquinhos comprados nas minhas andanças por este mundo de meu Deus. Até na terra do Poverello eu os adquiri. Nas duas vezes em que estive em Assis, comprei belíssimas "picolas immagini" do Santo das Chagas, neste momento, as mais valiosas, e, com certeza, as mais interessantes da minha despretensiosa coleção seráfica.
          4. Achava, que, em João Pessoa, seria fácil encontrar são-francisquinhos porque, no nordeste, é imenso o prestígio do Pobrezinho de Assis, que tem na cidade cearense de Canindé o seu grande e amado santuário.  Disseram-me, certa ocasião, ser o santuário de Canindé o maior santuário seráfico da América Latina e eu não hesitei em acreditar.
          5. Em João Pessoa, quem sabe, poderia se repetir o que me acontecera, recentemente, em Maceió: de repente, encontrei, numa feirinha, um são-francisquinho bem nordestino! Comprei. Ele tem encantado os amigos que visitam o meu esconderijo, ou seja, o meu modesto escritório doméstico, lugar sagrado, onde escrevo minhas pequenas e insignificantes crônicas.
          6. Não encontrei, por onde andei na capital paraibana, imagens de São Francisco de Assis, pequenas e bonitas, como eu queria, e fiquei triste. Mas, na lojinha do senhor com cara de frade capuchinho eu descobri um livrinho de cordel sobre "A contribuição dos franciscanos na Capitania da Paraíba". Interessei-me pelos versos espontâneos do cordelista Vicente Campos Filho,  e digo por quê.  
          7. Eis que acabara de participar, na cidade de Lagoa Seca, a poucos quilômetros de Campina Grande, em pleno brejo paraibano, das comemorações dos 75 anos de fundação do que fora, até 1971, o maior e melhor seminário franciscano do norte e nordeste do Brasil, o Seminário de Ipuarana, hoje - que pena! - desativado, mas ainda mui bem-conservado. Vejam a foto. 
          8. Entre 1940 e 1971, o Seminário Seráfico de Ipuarana acolheu milhares de jovens - eu um deles - que desejavam seguir Francisco de Assis, dando-lhes criteriosa e solida formação religiosa, moral, cívica e intelectual.
          9. Muitos receberam o hábito marrom, e, de burel franciscano, como sacerdotes, saíram pelo mundo ensinando e evangelizando.
          Outros tantos - eu, inclusive - deixaram o seminário e engrossaram o exército dos ex-seminaristas, guardando e cultivando, entretanto, os ensinamentos recebidos dos velhos e queridos mestres, no começo, frades alemães.
          Pelo que ofereceu de bom durante o tempo em que esteve em atividade, o Seminário de Ipuarana, na Paraíba, continua recebendo dos ex-alunos o apertado abraço de gratidão.
          10. E o cordelista? No seu pequeno livro, de versos saborosos e boas rimas, ele lembra a chegada dos primeiros franciscanos na capitania da Paraíba. E destaca a luta desses frades em defesa dos índios que povoavam as terras paraibanas, sempre perseguidos por colonos de incontida voracidade.  -  "Conquistadores, colonos/ Queria a escravidão/ Dos índios que aqui viviam/ Mas os franciscanos não/ A única arma que usavam/ Era uma cruz na mão." 
          11. Há no livro do cordelista Vicente um verso que diz: "Quando os homens portugueses/ A Paraíba conquistaram/ Trouxeram os franciscanos/ Que depressa semearam/ A civilização cristã/ E índios conquistaram.  == Colaboraram também/ Na introdução da cultura/ Deixaram grande herança/ No campo da arquitetura/ Talhas e azulejaria/ Cantaria e pintura." 
          12. Na sua missão evangelizadora e de intensa catequese do povo indígena, os franciscanos, num dado momento, tiveram que enfrentar os poderosos holandeses quando esses gringos conquistaram a capitania da Paraíba. Lembra o cordelista: "Os franciscanos também/ Mostraram sua grandeza/ Quando deram grande ajuda/ Na luta e na defesa/ Dessa terra quando houve/ Dominação holandesa."
          13. Vê-se, pois, que vem de muito longe o amor dos filhos de Francisco de Assis pela heroica Paraíba em cuja bandeira ostenta a palavra NEGO (não aceito), símbolo da independência e da bravura da terra de homens como Epitácio Pessoa (1865-1942) e João Pessoa (1878-1930) e mais recentemente (1887-1980) José Américo de Almeida.

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 22/02/2015
Reeditado em 22/02/2015
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