SUPLICIO DE UMA FARPA DE BAMBU DEBAIXO DA UNHA

Tortura é, segundo alguns escritos sumérios, a imposição de dor física ou psicológica, deliberadamente dolorosa, por prazer ou crueldade, intimidação, punição, a fim de obter uma confissão qualquer do sacrificado. Foi isso que fizeram comigo.

Malditos!

O prefeito do lugarejo – não menciono o nome porque o processo corre em segredo de justiça - queria, por todo o custo, acabar com minha vida só porque não concordei com os roubos, as safadezas e os desmandos na destruição da aldeola. Mandou me apedrejar e acabou acertando a testa de meu pai; Arquitetou minha morte na fogueira; O filho de uma puta imaginando que estivesse na casa de minha mana, mandou botar fogo na casa dela; De todos eu escapuli, só não consegui me escafeder da maldita farpa de bambu debaixo da unha.

A tarde agonizava cuspindo chuva à cântaro; Eu desprevenido, encharcado, pisando em poças, seguia pensativo à casa de meu pai.

De repente.

- É ele! Escutei aterrorizado um bando maldito encapuzado acercando-se de mim.

Tentei escapar.

Foi inútil; Eram muitos.

Imobilizaram-me e aos gritos, que me ensurdeciam, urravam:

- Agora você vai se foder! O nosso santo prefeito não merece suas críticas! Vamos nos vingar!

Debati-me tentando libertar minha mão esquerda que estava presa, nos braços daqueles facínoras.

Pude ver uma farpa enorme de bambu que estava posicionada entre a carne e a unha do meu dedo indicador da mão esquerda.

Rindo feito uma doida a farpa gritava:

- Vou escavar o seu dedo! Vou escavar o seu dedo!

Vi milhões de estrelas quando a farpa entrou, num só golpe, por debaixo da unha, passando pela falange distal até estacionar no osso trapézio do pulso.

Quando os mandados do maldito prefeito iam espetar outra farpa, providencialmente minha irmã chegou botando os bandidos encapuçados para correr. Quando vi meu dedo, completamente imobilizado pela taquara, sangrando feito bica d’água, virei os olhos e puff no chão.

No hospital, das três enfermeiras duas desmaiaram, e a que sobrou perguntou:

- como é que você fez isso?

- eu não fiz, fizeram isso comigo. Gemendo de dor respondi para ela.

Ela tentou puxar a farpa sem anestésico, mas pelos meus urros ela optou pela anestesia.

Puta que os pariu, antes tivesse tentado sem a anestesia! Eu acho que a enfermeira é comunada com o prefeito; Ela pegou uma agulha, quase mais grossa que um lápis, e estocou várias vezes, atravessando de um lado ao outro, o meu dedo enfarpado.

Peidei fino de dor, e o volume de meu saco desapareceu completamente. Apalpei uma vez, apalpei varias vezes por entre as pernas e agoniado não encontrei as bolas no meu saco.

Apavorado me perguntei:

- Será que os filhos de uma puta me castraram?

A dor era imensa, mas não conseguia gritar por estar engasgado.

A enfermeira apavorada percebeu que eu estava morrendo sufocado, correu chamar a médica. A médica vendo os dois papos estranhos no pescoço diagnosticou como minhas bolas alojadas na garganta.

Deu-me um copo de água e esfregou no meu saco um pó especial de perereca. Os grãos deslizaram felizes garganta abaixo até se instalarem novamente na parte de baixo.

Fico feliz porque meu saco hoje carrega as duas bolas, e meu dedo já está em movimento sem muita dor.

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 22/02/2015
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