Minha pequena Emys #2

E eis que o vento soprou novamente meu amor.

Olha, a chuva soou aquele belo e suave som nostálgico.

Inspire, inspire profundamente e sinta o cheiro da terra molhada.

Você consegue se lembrar? Sim, aquela noite perfeita sobre raios e trovões, sentíamos todo o vigor que fluía vindo do solo que havia se transformado em barro, graças aos nossos pés descalços na noite chuvosa. Rimos muito minha amada, nos abraçávamos e dançávamos como se uma plateia enorme nos observasse e concentrados não queríamos errar um passo se quer. Nossos olhos se entrelaçavam ardentemente de uma forma tão calorosa que parecia não haver tempo para que as gotas d'água chegassem em sua forma liquida próximo ao seu rosto. Enquanto observava atentamente, em minha consciência fazia preces pedindo que um novo raio cruzasse os céus, para que um enorme feixe de luz revelasse tudo ao nosso redor, inclusive os seus lindos olhos cor de mel. Observava como estavam trêmulos seus lábios carnudos e avermelhados de um belo batom escarlate; não de medo pelos clarões dos relâmpagos, ou dos sons tenebrosos dos trovões que acompanhavam nossa valsa aquela noite e nem mesmo pelo vento congelante que todas as gotas de chuva transiam carregadas em suas costas. Mas trêmulos por uma expectativa, apenas uma unica expectativa, seus lábios estavam a espera de um encontro com os meus, eles também queriam bailar na chuva, também queriam se entrelaçar, sentir um ao outro. E amada minha, lembra como eu à provoquei? Cheguei o mais próximo possível, tão próximo ao ponto que as gotas d'água usassem nossos lábios como uma vala numa travessia sufocante espremendo-se entre nós dois, levando nossa essência como uma só ao tocar ao chão.

Então você me beijou, sim, não foi eu quem à beijei, você roubara um beijo assim como já havia feito com meu coração. Sentia em seus lábios um leve gosto do mar, não era seu batom e nem o gosto da chuva, eram lagrimas que rolavam dos seus olhos, que se perdiam entre as varias gotas da chuva e se encontravam ao nosso beijo.

Se eu morresse aquela noite eu teria conhecido o auge da minha vida, teria morrido com um leve sorriso no canto dos lábios e peito estufado por ter encontrado o ápice de um amor que selamos, que eternizamos para aquele momento, para o amanhã e até depois das fronteiras da morte.