LEITORES E ALGUNS DISSABORES

Quando comecei a frequentar a escola, não sabia ao certo o que realmente ela representava. Falo em um diálogo comigo mesmo, uma releitura de minhas memórias que admito estarem fragmentadas em pequenos flashes. Porém, hoje, – penso – tendo condições mais claras e próximas, venho ponderar o início dessa construção.

O fato é que tudo começou pelo gosto tardio pelas palavras, não por imposições ou obrigações, mas com exemplos de leitores de verdade, leitores reais que foram algumas de minhas inspirações. Certamente, sendo a Literatura uma espécie de arte, nenhum argumento justificaria – acredito – a possibilidade de ela nos orientar para caminhos comuns e conhecidos como bons ou maus. Tenho para mim que na verdade ela nos desorienta, nos colocando, inclusive, em territórios de desconfortos, inquietudes e desestabilidades. Essa Senhora de voz silenciosa, nos instiga também ao desconserto dos pensamentos prontos e nos instiga a reinventarmos aqueles outros que já estavam em nós. Tal como faço aqui ao revisitar o garoto que fui e que agora estranho ao recordar.

Confesso, em meio às limalhas que vão caindo aqui neste texto, que não saberia dizer o quanto sinto ao perceber a hipocrisia do “pulo”, já que como disse, tive inspirações. Explico: Só posso pedir que alguém salte se eu tiver saltado antes. Deste modo, de pulo em pulo, vamos resumindo pensamentos que vão ficando sempre no escanteio e na superfície das hipóteses. Pois todos já sabem que ler é “bom” e que enriquece blá, blá, blá... Mas não vejo mais aqueles exemplos de carnes, ossos e espíritos. Àqueles em que falei lá em cima e que tive o prazer de revisitar sobre outras carnes durante a graduação, desde colegas até professores.

Sei também que não sirvo de exemplo para nada. Na verdade ninguém é integralmente exemplar. Mas tenho os meus espaços no tempo aonde vou costurando e dando forma aos tecidos que vão sendo puxados das linhas coloridas de alguns leitores vivos e percebidos ao longo de meus tempos. Assim vamos seguindo.

Dilso Santos
Enviado por Dilso Santos em 22/02/2015
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