O cavalo Rouba Moça
            Aparecida começou a namorar com Valmir muito nova. Ele com 18 anos e ela com quinze. Estavam na plenitude da juventude. Ela ainda sonhava com um príncipe encantado e quando ele apareceu pela primeira vez, montado num lindo cavalo, seus olhos se cruzaram numa inquietante atração.
     Ela achou que nunca mais o veria, mas mal sabia ela que o rapaz foi pedir ao seupai para namorá-la. E se encontraram pela vez num festival de jogos de futebol da comunidade rural aonde ela morava. O pai consentiu com mil regras, que não queria beijos, agarramentos, etc. Namorar na década de setenta ainda não era tão livre como hoje.
     Valmir ia duas vezes por semana ver Aparecida, mas o pai deixava sempre alguém na sala para que o casal não tivesse maiores intimidades.
     Com apenas dois meses de namoro aconteceu um fato que marcou esta história. Valmir levou sua irmã Leninha para o almoço de domingo na casa da namorada. Os dois chegaram em belos cavalos, um negro e outro marrom. Aparecida apreciava demais andar a cavalo e seu pai não gostava de deixar as filhas cavalgarem, dizendo que os cavalos eram bravos e não estavam domados suficientemente para as filhas andar. A familia de Aparecida era composta de dez pessoas, cinco meninas e três meninos. Ela era a filha mais velha.
     Pois bem, quando Aparecida viu aqueles dois cavalos ficou fascinada e o namorado a convidou para dar uma volta. Ela montou no cavalo negro e foi dar uma volta com o namorado, cada um num cavalo.  A volta foi em torno as estradas que serpentavam as terras do pai e adjacências. Ela estava tão feliz, o namorado aproveitou para falar que queria se casar com ela. Quando ele e a irmã foram embora Aparecida ficou em devaneios, eufórica já fantasiando a vida futura.
     Logo que amanheceu o dia todos já haviam tomado café, e seu pai adentra na cozinha de sua casa, uma casa grande estilo fazenda, aonde seu pai havia ainda nascido e herdado dos pais. Ele entra e começa a falar que filha dele não saia pelas estradas como uma vagabunda, andando a cavalo sozinha com o namorado antes de casar. Ele partiu para cima da moça dando bofetões de tirar sangue na orelha. Isto foi a gota d’água para revoltar a moça. Ela somente respondeu para o pai Sr José, que não fez nada de errado, que todos estavam vendo os dois cavalgar. De nada adiantou a mãe Maria querer intervir me favor da filha.  Ela apanhou sem fazer nada e foi dormir chorando.
     Quando chegou na quarta feira dia em que Valmir ia visitá-la, ela abordou o fato para o namorado que ficou revoltado e disse de imediato que a namorada não ia ficar nem um segundo mais naquela casa.  Ele então a obrigou a montar na garupa do cavalo que ele estava e simplesmente roubou a namorada. Estava chovendo mas nem isto os detiveram. Lá se foram os dois, cortando caminho para que o pai de Aparecida não os pegasse. Quando o pai chegou em casa era tarde demais. A irmã da Aparecida a Lúcia, já havia feito um rolo de cobertor para enganar os pais e colocou debaixo das cobertas da cama aonde Aparecida dormia.
     No outro dia foi um reboliço na casa, e o pai dizendo que ia matar os dois, que iam casar na “policia”, antigamente havia estes modelos de casamento, dizem que era para lavar a honra.
     Enquanto isto o casal chegou na casa dos pais, e de lá foi orientado pelo pai de Valmir a fugir para outro local mais longe, até que o Sr Sebastião, acalmasse o pai de Aparecida, dizendo que o casal ia casar direito por livre e espontânea vontade, que polícia não ia entrar nesta pendenga.
     Passaram se alguns dias até que o pai do noivo preparasse todo o casamento, e o casal se casaram, com festas e tudo. Só não deixaram a moça casar de noiva. Ela ficou muito triste mas se conformou. Foram então recomeçar a vida com a ajuda do pai do noivo que tinha uma fazenda e comprou o necessário para o casal, até roupas para a noiva, pois o pai não deixou que ela tirasse suas roupas da casa dele. Ela saiu com a roupa do corpo, uma saia branca que chegou toda suja de barro e uma blusa amarela. O casamento foi a sensação da fofocas e festas também daquela cidade pequena das Minas Gerais.
     O cavalo ficou com o nome de Rouba Moça. E história do rapaz que roubou a moça ficou por muito tempo, como um acontecimento de amor da década de setenta. Uma bela e simples história de amor, mas que o povo contava, relembrava e ficou na história.
 
 
 

 
Norma Aparecida Silveira Moraes
Enviado por Norma Aparecida Silveira Moraes em 21/02/2015
Reeditado em 21/02/2015
Código do texto: T5145270
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