Ela é demais!!
O encanto pela vida é algo de que nenhuma pessoa, por mais simples ou ignorante que seja, deveria prescindir. Associar encantamento; o ato de maravilhar-se, à condição social é enganar-se sobre a razão de viver. Conhecemos o chão onde nascemos. Melhor do que qualquer estrangeiro. E isto é mais do que lógico. No entanto, quantos têm a oportunidade de comparecer. Presenciar. E vivenciar. A geografia. A arte. O costume. E as paisagens de uma terra estrangeira? Diria que muito poucos. A não ser através da tecnologia de que dispomos hoje. Cada vez mais avançada.
A não ser através de um filme ou de uma televisão. Podemos ter a chance. De conhecer um pouco. Do que fazem nossos irmãos. Do outro lado do mundo. Por mais que o mundo se diminua dado ao avanço das comunicações, nada há. Nem nunca haverá. Como a presença física. O toque de mão do estrangeiro. A visão. In loco. Das coisas de uma terra. De que tanto ouvimos falar.
Um povo é o que é por causa da interatividade entre os seus componentes. Tomemos como exemplo a língua. Ela se diversifica de uma maneira tal que é impossível. Acompanharmos. Suas mudanças. Sem recorrermos a dicionários modernos. Ou cláusulas. Reformadoras do idioma.
Quem faz a língua é o povo. Não o dicionário. Tampouco o gramático. Eles apenas acompanham as suas transformações. E procuram adaptar-se a elas. Não criam a língua. Apenas estudam-na. E aprimoram-na. Tudo ou quase tudo é regido pela vontade do povo. É ele quem cria e desfaz governos. Elege. Venera. Ou joga na obscuridade astros e estrelas. Faz crescer. Ou decair. A economia de um país. Simplesmente por ser a maioria.
Não há quem, ou o que, consiga contrariar as ações do povo. Foi assim em Roma. Como tem sido no Egito. No Iêmen. Na Líbia. Ou, com raras exceções, no resto do mundo.
A facilidade. Que temos hoje. De adentrarmos na cultura de uma terra estrangeira. Faz com que essa própria terra já deixe de ser estrangeira para nós. Ficamos tão familiares. Com tudo que lhe diz respeito. Que nos sentimos um dos seus habitantes.
Há poucas semanas, assistindo a um canal francês tomei contato com a existência de Cesária Évora. Digo existência passada, pois a programação foi ao ar dias após sua morte. Foi aí que me veio a ideia. De escrever esta crônica. Como é que pode, eu me perguntava, não ter ouvido falar. Nem escutado. Uma única canção. Desta genial cantora? O que me chamou a atenção não foi a emissão em si do programa. Mas a forma com que ela falava.
O entrevistador fazia a pergunta em francês. E ela respondia em português. Mas não era o português que nós, brasileiros, conhecemos. Cesária é de Cabo Verde (Cabo Verde é um país insular. Africano. Arquipélago. De origem vulcânica. Constituído por dez ilhas. Está localizado no Oceano Atlântico. A 640 km a oeste de Dakar. Senegal). Eu me encontrava ao computador. E percebi o sotaque. Estranhei por que nao conseguia entender. Quase nada. Do que ela falava.
É o portugues creoulo. Que é falado em cabo Verde. Depois, vinham as suas interpretaçoes. De lindas canções creoulas. Foi o suficiente para me fazer levantar. E acompanhar. O programa. Do princípio ao fim.
Digo que o programa era uma homenagem. Em razão de sua morte. Mas eu só fui saber dias depois. Ao pesquisar. A Internet. Resultado: baixei não menos do que 52 canções de Cesária Évora. Surpreendi-me. Ao saber que ela gravara com cantores como Caetano Veloso. E Marisa Monti. Fiquei mais surpreso ainda de não conhecê-la.
Quem me estiver lendo. E quiser comprovar. É só baixar suas músicas. Quanto à língua, é bastante engraçado o português creoulo. Confesso que, como professor de línguas, envergonho-me. Por desconhecer totalmente a sua existência.
Termino dizendo que há tantas coisas boas no mundo. Que ainda desconhecemos. Ficamos presos as nossas rotinas. Fazendo coisas repetitivas. Sempre as mesmas coisas. Todos os dias. E não fazemos as viagens que precisam ser feitas. E, o mais agradável. Ou o mais desagradavelmente surpreendente. É sabermos que tudo isto está bem a nossa frente. A todas as horas. Sem custo. Rápido. No simples click. De um mouse. De computador.