Hora do Café

3:14 PM. Um minuto para a hora do Café.

A toalha branca rendada posta sobre a mesa de vidro. Coberta de nada, a espera das xícaras de porcelana guardadas na prateleira de um armário velho, e do chá quente emergido em um bule que aguardava, na pia, uma mão corajosa que lhe depositasse sobre aquela tal toalha.

Eu esperava ouvir o barulho da porta de madeira rangendo ao se abrir, seguido por passos ecoando pelo corredor que levava até aquela varanda nem um pouco acolhedora, tomada pela luz do Sol que, de tão forte, parecia estar a pino. Seriam esses mesmos sons de passos que trariam consigo uma rosca qualquer, para acompanhar o chá. Me olharia nos olhos, mas não na janela da alma que eles são, e sim na esfera branca, com tantos detalhes despercebidos por só se ver o verde indeciso, e diria com calma: "Olá, me atrasei?!"

Eu responderia algo simpático, ensaiado, assim, arrumaríamos a mesa, e discutiríamos sobre qualquer coisa que preenchesse o vazio daquele ar sem emoção. Ou, que não preenchesse, já que sempre falhávamos nisso.

Depois de matar a fome que não sentia com meia fatia de rosca, dois goles de chá aguado e algumas palavras sem sentido, eu o levaria até a porta e agradeceria sua vinda com um beijo suave na bochecha esquerda. Esperaria que se afastasse ao menos 10 metros do portão, entraria pela porta da frente e voltaria a fazer nada.

Seria a hora do café mais incomum que tivera, e ainda assim eu podia prever cada passo. Talvez seja por isso que eu não o convidei, liguei o som alto, cambaleei pela casa como se dançasse, tomei 2 litros de refrigerante, comi a pizza que havia sobrado de ontem, me joguei na cama, e não dormi enquanto não terminei de contar quantas manchas do teto do meu quarto me lembravam uma forma conhecida.

Isadora Pinhabe
Enviado por Isadora Pinhabe em 20/02/2015
Reeditado em 21/02/2015
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