Passeio de Padre
Quando um padre era visto em São José dos Salgados, só podia ser o Padre Evaristo. Por Cristo, com Cristo, em Cristo - e ainda se fala mais nisto. Salgados, com seus menos de quinhentos residentes, no povoado e nas redondezas, paramentava-se toda, de roupa e espírito para receber o Padre Evaristo, que,não raro, aparecia por lá seus seminaristas, ensaiando pastorais, próprias e para os demais.
Naquela igreja singela, bem ao centro da praça distrital é que lhe vinha a graça, e o ainda incipiente pregador da cidade grande se transfigurava no inspirado orador, diante de atentos ouvidos e olhos, atendendo o desejo e a esperança de todo um vilarejo que sabe a fé onde alcança.
Passados os ritos religiosos, hora do folguear, das conversas, dos passeios e até do foguetório em meio aos galanteios - com tempo até para se espiar uma animada partida de futebol entre a moçada do povoado e um time visitante, da quilombola Catumba, bem vizinha, que mesmo com dois avantes sara-ruivos dá logo pra notar que acabava de sair por inteiro de um quilombo - ainda nem descoberto por Colombo.
A inspiração trazida por Padre
Evaristo não foi suficiente para tirar o time salgadense de seu inferno astral e os catumbenses, homogêneos até na cor, não cumpriram o Evangelho, sem perdoar o perdedor, com seu ataque devastador.
De toda forma, ao cabo de muita zanza, a fome equailiza, pois é a norma. E querendo, cada lar, ao Padre visitante mais agradar, comida boa, hospitaleira, é que não havia de faltar. E houvesse paladar. Feito na multiplicação - tirante peixe e pão - era cada senhora refeição. Enchendo pança e coração.