Se você quer ir embora, pode ir

A porta está aberta, nem precisa trancá-la. Deixa a tua chave em cima do criado-mudo ou pode jogá-la na nossa cama que quando eu for arrumá-la, verei. Se quiser levar o porta-retrato daquela viagem à praia onde você me molhou toda e me levou no colo até o fundo para pegar conchinhas, fique à vontade. Se quiser tacar a aliança no lixo, taca. Mas, por favor, taque no lixo da nossa cozinha onde nós fizemos amor durante horas na nossa primeira noite na casa.

Se você quiser deixar aquela blusa tua pra eu poder vesti-la quando sentir frio no meio da noite só porque não tenho roupas o suficiente ou só porque você não vai estar do meu lado, me abraçando, dizendo que me ama, roçando teus pés nos meus, pode deixar.

Se também quiser colocar no teu carro aquele CD, que eu te fiz, com as músicas que nos acompanharam nos melhores e piores momentos, pode colocar. Se quiser trazer contigo aquele perfume meu que você sempre diz que enjoou mas sempre pede pra eu usar, tem todo o direito. Se quiser me deixar com aquele teu sorriso lindo e aquela voz manhosa de quem acabou de acordar e ainda quer ficar na cama por algum tempo, deixa. E… Ah, quase esqueci! Será que você pode deixar comigo aquele teu toque gelado sobre minha pele? Aquele quando suas mãos ficam frias depois de ir ao banheiro, só porque eu grito lá da sala pra você lavá-las pois sempre achei horrível a mania dos homens irem ao banheiro e não lavarem as mãos. Agora, os meus cabelos pretos, deitados sobre teu corpo, eu te permito levar - mas só se você me der os teus pra eu poder ficar mexendo até conseguir dormir. E as lembranças dividimos. Metade pra mim, metade pra ti. Ei, espera, não vá, não ainda… Eu não tive chance de te perguntar. Você quer ir?

Jess A
Enviado por Jess A em 19/02/2015
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