A DESOVA
Joanete Ferri tem mãos de fada!
Não conseguiremos cumprir a tarefa, se não colocarmos a mão na massa agora!
Passaram a mão no meu dinheiro e eu nem percebi.
As crianças estão com as mãos sujas.
Ao observarmos as quatro orações acima, vemos que a palavra “mão” não tem o mesmo significado em todas elas. Na primeira, significa habilidade, destreza; na segunda o sentido é de agir coletivamente, com diligência; a terceira equivale a roubo, e a última é mesmo a parte do corpo humano que se localiza na extremidade do membro superior.
A isso a Semântica chama de polissemia. Trata-se de um conceito da área da linguística com origem no termo grego polysemos, que significa "algo que tem muitos significados". Dessa forma, uma palavra polissêmica é uma palavra que reúne vários significados.
Para ilustrar esse fenômeno linguístico em Linhares, relato a seguir um fato acontecido, mais ou menos, na década de 80. Antes, porém, preciso de dizer que durante a década de 70 e início dos anos seguintes, a cidade era considerada muito violenta, a ponto de seu nome aparecer nas páginas policiais dos jornais da capital todos os dias.
Apesar disso, o povo não pensou em crime quando surgiu a notícia de que Dr. Genivaldo ( nome fictício), importante político da cidade, sumira. Em tons de fofoca, as pessoas ora diziam que ele fugira com a amante, ora que sumira porque estava devendo a Deus e o mundo, ora que fora abduzido...
Durante mais de uma semana, as especulações se sucederam, até que seu corpo foi encontrado abandonado em uma estrada de chão, que dava acesso a um lugarejo bem distante do centro. Naquela manhã o burburinho foi intenso e a notícia frequentou todos os ambientes. Na escola em que eu trabalhava a notícia chegou que ele fora desovado e esse foi o assunto da entrada do turno, do recreio e da saída. Todos ficamos consternados, pois o cidadão era realmente muito querido.
Naquele dia eu fui almoçar na casa de uma colega professora e assisti à sua aflição, quando, à mesa, passou a relatar para o marido a fatídica notícia:
_”Mô, acharam o corpo do Dr. Genivaldo”!!
_”Jura? Onde é que ele estava?”, perguntou o marido.
_”Lá na estrada de Pontal do Ouro”!
_”Tão longe assim? Como é que o mataram?”, questionou o esposo.
_”Que maldade que fizeram com ele, Mô!”, ela falou com cara de nojo.
_ “Como assim?”, quis saber o homem.
_ “Tiraram os ovos dele, enquanto ele ainda estava vivo”.
Eu que a tudo assistia, quase me engasguei com o pedaço de bife que mastigava, tossi muito e quando consegui me recompor, perguntei:
_ Como assim? De onde você tirou isso? Ele foi morto a tiros.
_ Não, Norma!! Tiraram os ovos dele vivinho da Silva!!, ela enfatizou.
_ Tá doida?? Foi a tiros!!
Foi então que minha amiga disse:
_ Você também ouviu a Tereza dizer lá na escola, que ele foi DESOVADO!!
Quando caiu a ficha, eu ri da barriga doer. E rio até hoje, sempre que me lembro disso.