MULHERES E TROGLODITAS*

Lendo no Jornal de Santa Catarina sobre a tal “loira da Beira-Rio”,** lembrei-me de um fato que presenciei há alguns dias perto de minha casa, só que este foi bem mais grosseiro. Quando desembarquei de um ônibus do transporte coletivo, uma moça de minissaia também desembarcou e seguiu alguns metros à frente. Que era bonita qualquer um podia notar: morena, por volta de vinte anos, um corpo bem delineado. O que me assustou foi a reação dos homens que passavam pela rua em carros, caminhões e motocicletas: buzinavam, gritavam obscenidades, comportando-se como verdadeiros gorilas no cio, com a diferença de que os animais agem assim por instinto, enquanto que a nós foi dado o dom de raciocinar.

Nós evoluímos, estudamos, descobrimos novas tecnologias e mesmo assim, muitos homens ainda se comportam desse jeito tosco sempre que aparece uma mulher com belos atributos físicos passando pela rua. Plagiando uma crônica do genial escritor Luís Fernando Veríssimo, eu diria que, se Deus inventou alguma coisa melhor do que mulher, guardou para Ele. Mas, isso não quer dizer que preciso berrar e uivar feito um lobo alucinado na lua cheia para demonstrar a minha apreciação.

É certo que toda mulher gosta de ser cortejada e admirada por seus atributos físicos, mas acima de tudo merece ser respeitada como o ser maravilhoso que é, valorizada pelas outras qualidades que possui e não tratada como mero objeto sexual. Toda mulher quer um homem forte e viril na sua vida. Mas isso não significa ser grosseiro e mal educado.

Mesmo por que, muitos daqueles homens certamente têm mulher e filhos em casa, talvez até filhas com a idade da moça da minissaia. Na presença das “patroas” e da família, provavelmente se comportam como lordes, mal ousando olhar para os lados. Soltos nas ruas, transformam-se em verdadeiros trogloditas, urrando, babando e batendo no peito quando veem uma fêmea à solta.

*Texto publicado no Jornal de Santa Catarina, edição de 13/02/2015.

**A tal "Loira da Beira-Rio" é uma moça que virou assunto de colunas no mesmo jornal por que costumava fazer suas caminhadas diárias na Avenida Beira-Rio de Blumenau e os homens iam fazer caminhadas só para tentar vê-la.