Crônica de Cingapura (dezembro/2001)

Vinte e cinco milhões de dólares é o quanto se oferece pela cabeça de bin Laden. Não se sabe se colada ou separada do corpo. Mas que é uma fortuna, isso não se disputa. E de pensar que há pouco menos de dois milênios a cabeça de um Cristo, com iluminado halo, e cabelo apenas um pouco mais ralo, custou a bagatela de 30 dinheiros. Será o galope inflacionário, ou a expressão ainda não está no dicionário? Não adianta recorrer a ajudas ou a Judas.

Se vivo estivesse e da oferta por Ossama soubesse, o discípulo rebelde voltaria a dedurar e em seguida a se enforcar. Só não se sabe se o

próprio pescoço ou o alheio. Acorda? Não é a toa que o Talibã-mor, homem de negócios esclarecido, já teria ao filho ordenado que se se tornar iminente a sua captura, que o liquide ele próprio, e embolse o dinheiro da recompensa. Extinta a chama, o que sobrasse seria só aquela ossama.

Sem querer comparar doutrinas ou sinas ou me confessar, confidente, que sou de Minas, é bom que se esclareça que cabeça por cabeça Ossama tem certas vantagens: tem barba mais longa, olhar mais fuzilante e muito, muito mais turbante - apesar das quatro esposas que lhe permite o Corão. Demais, parece-se com o Caetano, o genial baiano.

Enquanto o Nazareno, manso, cordato e ameno, contenta-se em pregar a paz, curar enfermos, caminhar sobre as águas, pescar homens e empolgar audiências, mais que um Sílvio Santos e um Faustão, juntos num domingão. Entretanto, tem também a sua, ainda que rara, dose de agitação. Quem é que não se lembra de sua luta contra os vendilhões do templo, de chicote em punho, ameaçador? É assim que com ele sonham Maria Madalena, Marta, as santas mulheres em baixo do tchador opressor.

E a vaga não foi pro brejo. Pois é, justamente na derradeira rodada do torneio classificatório para a copa do mundo de futebol enchemo-nos de brio e malhando o ferro a frio ganhamos de 3 a 0 da valorosa equipe da República Bolivariana de Venezuela, que ameaçava se converter em potência futebolística da América do Sul. Depois de tanto sufoco ao longo de 18 partidas, demos o troco e podíamos ali em São Luís do Maranhão, enfim, respirar aliviados. Tava garantida a ida à copa. E tudo sob o olhar oblíquo e cigano de Capitu da Governadora que, de supetão, se converteu em musa da sucessão. Apesar do Felipão, da Confederação e do Ricardão, de leão coração. Sem Romário no páreo dá

pra encarar, encaralhar, ou pensam que a sério nos hão de levar? Ou será procurar mais sarney pra se coçar? No frigir dos ovos, acabamos nos classificando em terceiro lugar, saltando o Paraguai, a um ponto do poderoso Equador, e a anos luz da Argentina. Que sina.

Mas a sorte é que Maradona ya no está más allá. Destroçou o Brasil em 90 e agora se despediu do futebol em festa que empolgou a nação de Evita e Gardel ontem, e de Cavallo hoje. E levou consigo de vez a camisa dez da albiceleste. Nunca mais essa camisa há de cobrir um

torso portenho. Não é a toa que o apelo aos descamisados, de Perón a Menem, parece não ter fim. E é bom que Diego tenha levado a sua consigo. Não consigo imaginá-lo descamisado em pleno estádio. Humpty

Dumpty não deve ser confundido com o futebol. Dieguito está un huevito.

A meninada se reuniu pra seleção de modelos. Em São Paulo somente, cerca de dez mil candidatas se apresentaram. Cada uma mais bonita,

mais catita, nessa terra de Maluf e Celso Pitta. Mas as vagas eram sete tão somente. Há quem aguente? Uma das candidatas protestou e ao mundo os seios - não siliconados - mostrou. Foi o quanto bastou. Taí o bom de ser mulher, melhor, e saber a oportunidade, de peito e jeito, agarrar. Virou superstar. E não há de se contestar. Teve peito - que

outro jeito - de ao mundo se revelar. Bem sei-o. E nem as torres gêmeas, quando ainda existiam, para com aquela firmeza e dolcezza se comparar. O interessante é que com a turba excitada a polícia não tenha baixado o pau. Pelo contrário. Tampouco precisava matar a cobra. Prima já era a obra, de sobra.

Falar em beleza, deu Nigéria no Miss Mundo. Ninguém mais aguenta ouvir falar, mas tá lá na tv e todo mundo vê. Fazer o quê? E vem a lembrança retroativa de quase cinquenta anos quando por duas polegadas apenas nossa Marta - por sinal bem farta - deixou de empalmar a coroa. Talvez com um acerto no inglês e um bom aperto nos porquês, teria contornado a situação, por que não? Afinal duas polegadas a mais não deixam de empolgar, seja na frente, dos lados, ou atrás. Demais, era nos quadris, coisa que a galera hoje estaria a pedir bis.

Saiu o Nobel e, descontados os ganhos cativos, da medicina, física e química, que vão sempre pros EUA ou um país do norte, na paz e literatura, há, volta e meia, algo que conforte. E pelo jeito vamos esquentando. Já deu México, Colômbia e Chile, Argentina, e agora, em literatura, sai o prêmio para Trinidad and Tobago, na pessoa do S R Naipaul, escritor de origem indiana que vive em Londres. Ah, se o Paulo Coelho escrevesse em inglês. Teria vez? Lutei pra ler o seu Alquimista. Em francês (mais barata do que em português), um luxo, pra lidar

com um bruxo, já murcho. Mas o meu favorito é ainda o do Cosme Velho, afiado Machado.

E a humilde e depravada privada ganha projeção, merecida e há muito devida. Tudo graças a um Mr Sim, de Cingapura, que deve ter muita

bossa na cabeça para fazer que por aqui aconteça o First Toilet Summit, que reuniu empresários ligados ao setor, de vários países, e o Ministro do Meio Ambiente para abrir os trabalhos. Convidado a participar, tive a oportunidade de muita anatomia experimentar.

Extrovertido, o Senhor Sim lança o seu decálogo, de que destaco u`a máxima: o homem leva em média 30 segundos no mictório e a mulher 90. Ufa, já é a segunda tarefa em que somos mais expeditos. A terceira é o assoviar. Tenho dito. A todos um Natal bendito. Jingle bells.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 19/02/2015
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