Pensa que é bonito ser feio?
"Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse,
nada havia em sua aparência para que o desejássemos" (Isaías 53:2)
A musa do tráfico – foi este o apelido que deram a uma jovem bonita e de corpo escultural que, não obstante, estava envolvida com o tráfico. Aparentemente, é bastante inusitado que mulheres que atendem a todos os padrões de beleza façam parte do mundo do crime. Pelo menos foi isso as reportagens deram a entender, todas ressaltando que a jovem estava “acima de qualquer suspeita”. Afinal, quem em sã consciência imaginaria que uma pessoa bonita fosse capaz de cometer alguma maldade? Um feio, vá lá. De um feio sempre se espera as piores coisas. O simples fato de ser feio já o torna altamente suspeito. E quando confirmamos que um feio, efetivamente, cometeu algum crime, podemos dizer que “era de se esperar”.
Mas se descobrimos que uma jovem bonita, sem celulite, de seios e bumbum durinhos, está envolvida com atividades ilícitas, nossa reação é de espanto, afinal, “ela não precisava disso”. As atividades criminosas, bem o sabemos, são uma necessidade típica de deficientes estéticos, pessoas que precisam, de alguma maneira, compensar o fato de não serem agradáveis ao olhar. Nada mais natural, portanto, que elas se ocupem em matar, roubar ou traficar. Também são essas mesmas pessoas que pedem dinheiro nas ruas. Quando acontece uma excentricidade, como o surgimento de um mendigo galã, nós logo nos apiedamos da sua situação e tratamos de resolvê-la, pois a rua, definitivamente, não é lugar para gente bonita.
Ao feio, portanto, são reservadas as seguintes alternativas de vida: o crime; a mendicância; e o suicídio, que tem a vantagem de trazer poucas consequências para a sociedade. De fato, é uma grande extravagância quando uma pessoa bonita resolve tirar a própria vida, coisa que não deixamos de observar em nossas lamentações: “Mas ela era tão bonita!”. Não devemos, pois, misturar as coisas: aos bonitos o que é bonito, aos feios o que é feio.