Frevo: a pressa inimiga
Desde criança escuto frevo. Já ouvi muito às obras de Nelson Ferreira e Capiba e os frevos de rua executados por várias orquestras, desde a banda do 14º RI aos belos arranjos do Maestro Duda ou aos sofisticados duetos de requinta e tuba do mestre Guedes Peixoto . Uma coisa que me chama a atenção nos frevos executados hoje (já há alguns anos) é o andamento. As orquestras atuais tocam os frevos a uma velocidade que quem teve a oportunidade de ouvir àquelas tradicionais orquestras percebe a incrível velocidade que está sendo dada na execução. Tem-se a impressão que os atuais maestros, inclusive o competentíssimo Spock, acredita ser esse incremento um inquestionável estímulo aos presentes para que façam o passo. Essa rapidez, no entanto parece prejudicar a maioria das execuções, haja vista o grau de dificuldade que se agiganta (o frevo já não é fácil) ao exigir do músico uma agilidade de maratonista para um resultado que me parece extrair parte da beleza das lindas harmonias, mas que duram frações de tempo ainda menores. Não se trata de ser saudosista, até porque devido ao seu valor isso não existe em qualquer forma de arte, mas de registrar o que deve ser um engano. Sei que uma gama de pessoas maior que me lesse talvez boa parte mais puristas se irritasse porém, no exemplo baiano de carnaval não parece ser o andamento das canções que determina a animação, seriam, na verdade outros elementos que se derivaram para o que se tem hoje por lá. O fenômeno da aceleração também assolou os sambas-enredo das escolas do Rio de Janeiro, tanto que se deixássemos somente os surdos tocando sem dizer a que ritmo eles estariam marcando certamente se pensaria tratar de marchas carnavalescas, porém lá a razão deve ser para ajudar as escolas a cumprirem o tempo de desfile na passarela.
Caso os andamentos dos frevos fossem considerados lentos demais, alguma aceleração se poderia dar, mas não esta que aí está.
Aqui, o fenômeno do frevo aflito não cumpriu a promessa de animação. Nota-se isso no desequilíbrio entre o esforço brutal da orquestra na execução de obras menos populares e a apatia desproporcional do publico. Ela se dá por outras razões. Um exemplo disso é o famoso frevo de bloco “Último Regresso” cujo andamento ainda não foi “reciclado” e faz um sucesso enorme. Quando o Alceu compôs suas canções de carnaval o andamento delas era próprio embora, ao aplicá-lo em canções mais antigas não se teria a garantia do casamento perfeito. Aperfeiçoar as composições para uma linguagem moderna e que vire mantra na cabeça do público, tenho certeza, é o que todos querem, mas certamente não passa pela compactação dos compassos. Quando o frevo é bom cutuca quem ouve. Isso apenas o “enfeia” sem que se perceba claramente porquê..