Entre pessoas, sonhos, concreto e parque.
A vida me chamava insistentemente para respirar outros ares, conhecer outras pessoas, viver novas histórias. Meu coração me dizia que era chegada a hora de partir. Afinal de contas, eu havia me preparado anos a fio para aquela jornada que estava prestes a começar.
Arrumei as malas, limpei meus armários, enchi o peito de coragem e fui.
Outra cidade, outro lugar, outros ares, outras pessoas, outras histórias. Como eu havia previsto.
Só não contava que naquele lugar haveria um lindo parque, com árvores frondosas e gente bonita caminhando de um lado para o outro. O barulho do silêncio era tão grande que nossa respiração ofegante se perdia no meio do barulho do vento, soprando levemente as árvores e os pensamentos. Era um lindo parque. Digno de pessoas como eu, que sonharam por tanto tempo em percorrer novos caminhos. E também para todas aquelas pessoas que já haviam chegado antes de mim e muitas outras que viriam depois. E as que hoje ainda chegam e saem. Num ir e vir sem parar.
Das pessoas que não estavam no parque, muitas estavam como eu, de peito aberto para a vida. Outras de coração fechado, semblante franzido. Não naquele parque, pois lá as pessoas eram alegres, saudáveis, sorridentes, mesmo na pressa de cumprir o percurso prometido na segunda-feira “pré-regime”. Talvez fossem os pássaros que cantavam alegres, ou as folhas verdes das árvores ou até o pequeno lago com alguns patos que tornavam essas pessoas mais felizes.
E eu? Onde eu estava no momento em que essas pessoas eram felizes no parque?
Provavelmente entre paredes de concreto cinza, janelas de vidro transparente e mesas abarrotadas de papel. O telefone tocando insistentemente e a secretária com a agenda em punho, pedindo um minuto da minha atenção.
E eu? Trabalhando. Trabalhando.
Assim não seria possível ser feliz. Então decidi: ou o parque, ou nada.
E como eu não podia morar no parque, novamente arrumei as malas, limpei meus armários, enchi o peito de coragem e voltei.