Aloísio, um homem bom
- É Aloísio.
- Como?
Do outro lado, a voz rouca e distante se identificava melhor:
- Doutor Aloísio.
Minha irmã, que ouvira a conversa, tomou-me o telefone e foi dialogar com o seu ídolo. Sim, àquela altura, Aloísio Vieira Rodrigues já ocupava lugar de destaque na lista das pessoas que ela mais admirava. Eu é que me esquecera, mas, também, quando é que médico liga para casa de mãe para saber se a criança reagira bem ao medicamento?
Aloísio era assim. Passava a receita, pedia notícias e costumava ligar. Procurássemos o nome dele na lista dos credenciados pelos planos, não encontraríamos. Mas o homem estava lá atendendo sempre e cobrando um precinho que cabia no bolso de todos. E – se alguém não podia pagar – nem por isso merecia menos atenção. Consulta longa... Ouvia o problema, examinava, parava e fazia a prescrição, explicando tim-tim por tim-tim como queria que se usasse o medicamento. Acostumado ao povo simples, a mães humildes, usava aquela didática indistintamente, não poupando as mais sábias de explicações comezinhas. Muitas vezes o atendimento era na medicina pública, na Avenida dos Andradas, mas os desdobramentos se faziam em seu consultório. Sem cobranças, é claro.
Lá em casa, lembro-me bem, as crianças tinham vários médicos. Pequenos problemas se resolviam pelo plano de saúde, mas – quando dos grandes apertos – Aloísio entrava em ação. E não poucas vezes precisamos de sua aguçada e despretensiosa inteligência.
Lá na Andradas, depois de aposentado, ele continuou cumprindo horário, para ajudar as pessoas, desafogar o trabalho e ajudar o Brasil. Era sua cota... Ele, que costumava deixar os pais à espera até que o jornal da tevê acabasse, certamente conhecia os graves problemas na saúde pública e – acabado o noticiário – descia ao consultório para a faina diária do bem.
Certa vez, quisemos materializar nosso carinho e respeito. Gravamos seu nome em uma caneta e lhe entregamos como singela prova de agradecimento. Atrás da mesa, o homem calvo, de jaleco branco e curto, mãos brancas, finas e vermelhas, recebeu o mimo e deixou transparecer discreta alegria.
Não muitas vezes o vi na vida. Muito ouvi falar dele. Médico, de hábitos modestos e amigo dos pobres, com cinquenta anos de medicina, era natural que se criasse uma certa aura em torno de seu nome. O homem simples, que andava de brasília e amava as crianças.
O que se relata por aqui é o Aloísio que conheci a distância e do qual muito ouvi falar. É possível que muitos pais, ao passarem em Juiz de Fora, pela rua da Abolição, lá no seu finzinho, recordem-se de que na casa grande da esquina morou Aloísio Vieira Rodrigues e, se passarem à noite, ao verem que as luzes do consultório não estão acesas, se lembrem de que ali, naquele recinto, trabalhou um homem que, se mais vivesse, mais bem teria feito aos homens.
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