A OCASIÃO NÃO FAZ O LADRÃO

A OCASIÃO NÃO FAZ O LADRÃO

Há um ditado que diz que a ocasião faz o ladrão, eu não acredito nele, nem mesmo neste que eu seguidamente digo:

- O ambiente faz o delinquente - o que faz tudo isto e a mente fraca, assim então o ditado ficaria:

A mente fraca faz o ladrão, faz o preguiçoso, faz tudo o que não presta.

Tínhamos comprado um terreno na rua Egídio Michaelsen, rua que finda bem em frente a COHAB-Cavalhada, num final de tarde eu estava carpindo-o, então passou uma senhora com um recém adolescente, talvez de 1,80 m. Ela reclamava que havia o encontrado na praça matando a aula para ficar junto com os maconheiros e ele contra argumentava dizendo que senão o fizesse os outros o chamariam de bundão. Ela deu alguns passos parou e disse:

- Olha o pobre homem velho capinando, viu ele não estudou e agora ao invés de descansar está trabalhando. De prima senti raiva por ter me chamado de velho, mas depois dei-me conta que as intermináveis jornadas de trabalho nos fazem parecer pelo menos 10 anos mais velhos. Aquilo não poderia sair de graça, mas eu não devia sair dizendo que não era nada daquilo e que inclusive eu era Coronel da Brigada Militar. Perguntei se ela conhecia o brigadiano fulano que morava no mesmo conjunto habitacional, e ela respondeu que não. Pois é eu sou colega dele.

Fui aproveitando e perguntei ao adolescente o que ele sabia fazer, nada resumo eu.

Fui forçado a dizer que eu era eletrotécnico, analista, programador, DBA e tantas outras e nem por isto eu era bundão e ainda achava tempo para tentar ser jardineiro (não era o momento de detalhar a minha real profissão) e logo indaguei-o sobre seus sonhos suas vontades, aptidões, inclusive sugeri, quem sabe um vólei, um basquete, mudar de escola, talvez a Escola Técnica Parobé, mas nada o encheu de vontade, ele era só pequenos chutes numa touceirinha de grama, cabeça baixa e sempre lacônico.

Para ter mais assunto perguntei o que o pai dele fazia e a resposta foi triste:

- Eu não tenho pai! - faleceu? foi a minha indagação seguinte e a resposta veio mais triste ainda:

- Eu nunca tive pai!

A conversa se arrastou mais um pouco, mas de forma inócua.

Nunca mais nos vimos e eu fico pensando onde a vida deve ter levado aquele adolescente que se considerava bundão?

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 17/02/2015
Reeditado em 17/02/2019
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