ABÓBORA COM LEITE
"As nuvens alaranjadas do crepúsculo douram todas as coisas com o encanto da nostalgia". Inclusive a fome.
O entardecer de ontem, lembrou-me que no café de anteontem de manhã, me emocionei ao extremo. Enchi os olhos d'água, ao comer abóbora amassada com leite. Nostalgia pura! Voltei no tempo e lembrei que quando eu era criança, na época da seca, na escassez de alimentos, muitas vezes era com um prato desse, que eu, meu pai, minha mãe e meus irmãos passávamos o dia. Minha mãe, não reclamava. Mas hoje lembrando de sua fisionomia, sei que ela sofria com aquilo. Não por ela, mas pelos filhos. Ele, meu pai, não dizia nada, ia pra roça cabisbaixo, sem uma palavra! Como se fosse ele o culpado daquela situação. Hoje que sou pai, quando vejo algum filho meu em dificuldade, o fantasma da culpa me faz companhia e sinto agora o que meu PAI sentia, mesmo sem ter culpa.
Mas hoje, a culpa, a fome... não significa nada pra mim, diante da emoção de recordar esse pedaço da minha infância, da minha vida e que sei, não volta nunca mais.
Se tudo tem que ter um fim, que o meu fim seja cercado dessas lembranças. Tão boas, tão gostosas, tão doces, quanto àquela tigela cheia de abóbora amassada com leite.
S. Paulo, 17/06/2008
www.cordeiropoeta.net
"As nuvens alaranjadas do crepúsculo douram todas as coisas com o encanto da nostalgia". Inclusive a fome.
O entardecer de ontem, lembrou-me que no café de anteontem de manhã, me emocionei ao extremo. Enchi os olhos d'água, ao comer abóbora amassada com leite. Nostalgia pura! Voltei no tempo e lembrei que quando eu era criança, na época da seca, na escassez de alimentos, muitas vezes era com um prato desse, que eu, meu pai, minha mãe e meus irmãos passávamos o dia. Minha mãe, não reclamava. Mas hoje lembrando de sua fisionomia, sei que ela sofria com aquilo. Não por ela, mas pelos filhos. Ele, meu pai, não dizia nada, ia pra roça cabisbaixo, sem uma palavra! Como se fosse ele o culpado daquela situação. Hoje que sou pai, quando vejo algum filho meu em dificuldade, o fantasma da culpa me faz companhia e sinto agora o que meu PAI sentia, mesmo sem ter culpa.
Mas hoje, a culpa, a fome... não significa nada pra mim, diante da emoção de recordar esse pedaço da minha infância, da minha vida e que sei, não volta nunca mais.
Se tudo tem que ter um fim, que o meu fim seja cercado dessas lembranças. Tão boas, tão gostosas, tão doces, quanto àquela tigela cheia de abóbora amassada com leite.
S. Paulo, 17/06/2008
www.cordeiropoeta.net