COMPREENSÃO. KHALIL GIBRAN, VOLTAIRE.
Para o ateu os criacionistas são infantis, para gnósticos falta compreensão aos evolucionistas. O velho contraponto, não se demonstra a existência de Deus nem a inexistência, diga-o o grande cérebro de Kant, e nada da criação da vida provou-se, chega-se ao encontro de dois gametas, a digressão é barrada, o que coloca em desespero a ciência atrás da mínima partícula.
Tudo em vão, pois pouco se percebe da criatura nascida do criacionismo que é fruto da literatura humana, do homem, da fé, e atravessa portais imaginados exclusivamente pela fé, e se confunde transcendência com realidade e planejamento, Deus não planejou nada, só a fé planeja sua excelsa entidade, O PRIMEIRO MOVIMENTO, e seu Filho Ungido, Jesus de Nazaré, que foi Homem como nós, filho do PRIMEIRO MOVIMENTO, inegável pela quântica, sem o qual nada existiria, nisso sim, a ciência.
E muitos creem que Jesus foi inventado por São Paulo, ainda que tivesse como rabino judeu, antes da conversão, lapidado Estevão, enterrado com a cabeça de fora e apedrejado e morto por seguir o Cristo já então crucificado.
Sobrepaira a certeza de que todos, com segurança, não podem ir além dos limites impostos pela inteligência, na esteira da razão exercida, que tem barreiras severas. Tanto nos fenômenos da vida, cuja própria origem é desconhecida como causação digressiva, no primeiro movimento, quanto no âmbito da transcendência onde muitos se debatem e não possibilitam a plena oxigenação explicativa da eterna interrogação “para onde vamos?”.
E Voltaire pontificava sem possibilidade de contradição, basta olhar a humanidade e sua disfunção compreensiva, sic:
“Alma chamamos ao que anima. É tudo o que dela sabemos: a inteligência humana tem limites. Três quartos do gênero humano não vão além, nem se preocupam com o ser pensante. O outro quarto indaga. Ninguém obteve nem obterá resposta.”
Quem refuta essa verdade é tolo. E a tolice, parte sim desses três quartos, basta olhar como caminha o mundo em todos os sentidos. Esse um quarto que pensa razoavelmente, compreende a cadeia humana como se processa.
Gibran compreendeu bem essa incompreensão como situa, compreendeu que era a esfera, o todo, e não só um fragmento trêmulo aprisionado nas barreiras da inteligência sem poder dar um passo sem tropeçar na lógica que é rigorosa com a disfunção, e Khalil Gibran em suas convicções que se sedimentavam pode compreender, e ver um pouco mais que o comum dos homens:
“Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.
Eles dizem-me no seu despertar:
” Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito.”
E no meu sonho eu respondo-lhes:
“Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem.”
Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
“Quem és tu?”
Compreender é estágio de alta avaliação que demanda universo de enorme cunho filosófico, não só de entendimento. Entender é sempre possível, simplório exercício cerebral, ao alcance de muitos, mas compreender é neutralidade em contestar. Continuo na minha vida a árdua tarefa de buscar compreender. Compreender é o saber sem o exercer, o abrir mão do conhecimento e elevar o coração acima do cérebro. Abafar a emoção e dar lugar à racionalidade integral. Distinguir onde a natureza não distingue. Caminhar nas trevas mostradas e apontar uma luz de vela em uma grande sala escura. Imagina-se um luzeiro.
Compreender é ensinar sem contestar; ouvir, absorver, depurar, harmonizar e mostrar o caminho, convencendo a quem pode compreender. É eleição de difícil proporção, caminho de remotos passos e poucos passantes.