Na parede, meliante!

Na parede, meliante!

E o diálogo da violência legitimada começa:

- Documentos, por favor!

- Sou um cidadão!

- Não, você é cúmplice!

- Cúmplice de quê?

- De ser integrante das minorias e dos desfavorecidos! Esteja preso!

A nossa segurança deveria ser feita com respeito e probidade, porém, é erguida com medo e abusos. A farda, roupa que dá poder, faz de indivíduos despreparados e frustrados senhores da “ordem”. A arma utilizada é a mesma violência, na qual, essa profissão deveria combater. Uniformizados de abusos e sem a capacitação necessária para servir a população, esses senhores da Lei – se é que conhecem ou estudaram as Leis – usam do poder de uma instituição, sem muita credibilidade, para intimidar cidadãos de bem; e os de bens?

- Levanta a mão, malandro!

- O que está fazendo aqui, malandro?

Indagam, envergonham, intimidam, violentam... Para esses fardados e frustrados – pois a covardia é usar a instituição para se proteger – todos que são pretos, pobres, putas; todos esses, pelo simples fato de estar, são indivíduos de alta periculosidade. Triste fato! A história se repete; os três Ps! O que se vê pelas ruas é o massacre dos proscritos em prol dos “direitos” dos nababos; e todos aqueles – suspeitos pelo simples fato de ser cidadão - que ameaçam com a sua presença a incapacidade do Estado, tornam-se meliantes.

Enquadram e abusam dos cidadãos; poder abusivo respondendo ao preconceito. Mas, não somos tolos, pois sabemos que aqueles que amedrontam, são medrosos e precisam se encorajar sobre as minorias – entendam minorias tudo aquilo que a Elite econômica rechaça. Todos fardados e armados; o perigo vem de lá e de cá. O cidadão será sempre a vítima. Agora, entendam! Criticar e censurar não são crimes de DESACATO – Leiam a Lei 331 e não saiam silenciando a população com a violência do discurso autoritário.

Chico Buarque, em “’Acorda amor”, canção de sua autoria, chamou o Ladrão e pediu proteção ao avesso. Quem nos protegerá da violência que vem de todos os lados agora? A farda?

- Chame ladrão, chame ladrão!

É perceptível o medo da população quando ouve a sirene circulando pelas ruas; a segurança feita com medos e abusos. Mãos são erguidas, imediatamente; o Estado procura assustar com a insegurança da segurança violenta. É preciso explicar que o fato de ser desfavorecido, minoria, não lhe faz contraventor, tampouco bandido e meliante. A população deveria fazer uma Blitz e pedir a cada Agente do Estado o documento que lhe credencie a usar a roupa que deveria proteger o cidadão. Pedir a identidade da capacidade de indagar com respeito ao cidadão. Repito novamente: censurar e criticar não são crimes de Desacato. Entenderam? É preciso reafirmar sempre, pois tudo que se fala, será usado contra quem falou! Dura lex sed lex! Mas o que é a Lei? Interpretações da lei, geram uma nova Lei e anulam a anterior.

E o diálogo repressor continua, ecoa:

- Você é marginal!

- Por que, senhor?

- Porque é negro!

- Você é criminoso!

- Por que, senhor?

- Porque é pobre!

E um crime é cometido. País que condena cidadão e absolve a violência.

E o diálogo continua:

- Você pode passar, Doutor!

- Obrigado, Agente!

E o doutor, não sei de quê, vai subornando com o “conhecimento” e as benesses que o poder do poder oferece.

Falta ordem na ordem que a própria ordem estabelece. Não se combate violência com preconceito; não se expurga o crime com um novo crime; não se tem respeito agredindo com a covardia da farda.

- Chame ladrão!

Portanto, percebe-se que a segurança armada com indivíduos despreparados e oprimidos de outrora, tornam-se opressores de agora e algozes de quem mais precisa de sua proteção. Caso não haja uma preparação e uma reestruturação da instituição, dentre em breve se ouvirá o clamor e o brado que Chico Buarque, gênio da raça, vociferou outrora:

- Chame ladrão, chame ladrão!

E para reforçar aos desavisados. Censurar e criticar não são crimes de DESACATO!

Mário Paternostro