CARNAVAL: O UNIVERSO LUMINOSO

A América Latina, com suas idiossincrasias, guetos de idiomas e dialetos, é ainda o parque de diversões dos primos ricos – que mesmo com dinheiro no bolso – não conseguem estar tranquilos e sorrir, com medo dos assaltos à vida e ao patrimônio, e temem a sanha da gula dos que fazem o samba e seus fetiches descer da favela à ribalta do asfalto sujo, em meio às drogas e à prostituição. Tudo à socapa do poder legal ou mancomunados com os escalões que comandam os interesses econômico-financeiros; e de posse destes, cada um dos envolvidos serve-se de sua parte. Ainda assim, com todo este entorno nada mágico, cada facho nos postes de luz, é uma imensa lantejoula que subiu do rés-do-chão para o etéreo. A este estado fantasioso e único, só as cabeças coroadas e os praticantes conseguem adentrar, especialmente em tempo de carnaval, em que tudo se torna vigoroso e lindo. Até a morte se torna estranha a este universo luminoso da Poética. Esta maga do sentir serve a vida até o derradeiro ato. Depois, é lantejoula para todo o sempre. Não tanto para os olhos de quem faz, mas de quem aprecia e usufrui dos requebros do ritmo... Só resta bater palmas, mesmo que o universo reconstruído esteja vivamente fora do mundo cotidiano. Bem disse Joãozinho Trinta, um dos magos destes territórios: “Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo”.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.

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