C.Q.D. (Como se Quer Demonstrar)
“[...] Quando os grandes latifundiários ingleses eliminaram seus 'retainers' (agregados) que consumiam parcelas da produção excedente de suas terras; quando seus arrendatários expulsaram os pequenos camponeses, etc., uma massa duplamente livre de mão-de-obra foi lançada ao 'mercado de trabalho': livre das antigas relações de clientela, de servidão ou de prestação de serviços; mas livre, também, de todos os bens e de toda forma de existência prática objetiva, 'livre de toda propriedade'. Tal massa ficara reduzida à alternativa de vender sua capacidade de trabalho, à mendicância, à vagabundagem ou ao roubo como única fonte de renda. A história registra que ela primeiro tentou a mendicidade, a vagabundagem e a delinquência, mas que se viu afastada desse caminho e foi empurrada, a seguir, à estreita senda que levava ao mercado de trabalho, por meio do patíbulo, do cepo e do chicote (K. Marx, 1966:38)”.
Respeitadas as devidas proporções, não foi mais ou menos isso o que ocorreu com a abolição da escravatura no Brasil? Os proprietários dos escravos, ainda que de forma rudimentar, tinham que os alimentar, vestir e conceder-lhes moradia. Uma vez libertos, para poderem comer, se vestir e ter onde morar, os escravos tiveram que se absorvidos de alguma forma pelo mercado de trabalho. Nem que fosse, a princípio, a peso do chicote.
E, no entanto, ler Marx por aqui já foi bem mais perigoso.