As Aparências Enganam e as Circunstâncias Também

Passava um pouco das oito horas da manhã de um dia de semana, numa universidade estadual do Paraná. O dia estava ensolarado, com nuvens finas cobrindo o céu em vários pontos. As aulas estavam começando, os funcionários estavam abrindo as secretarias, havia vários alunos chegando e a rotina de mais um dia de aula se descortinava com toda a alegria e o burburinho que a multidão de jovens imprimia aos corredores do frio edifício de tijolos à vista.

As zeladoras estavam preparando os materiais de limpeza, com seus uniformes azuis e seus cabelos presos para trás. Um rapaz muito pálido, um pouco suado e com aparência de doente, abordou uma delas, que se encontrava perto de uma escadaria:

— Bom dia. Os sanitários ainda não foram abertos e eu estou passando muito mal. Eu não quero sujar o chão. Você poderia me arrumar um balde? — Disse ele, com uma voz trêmula e baixa.

— Ah sim. — Respondeu a zeladora, enquanto se dirigia rapidamente à pequena despensa que se localizava embaixo da escadaria e onde havia um tanque em que sua colega molhava alguns panos. — Ô Zefa, tem um rapaz que vai vomitar ali fora, arrume um balde, pelo amor de Deus! Eu odeio limpar vômitos do chão...

— Eles estão ali no canto.

Ela pegou um balde preto e foi correndo para fora.

— Ei, Cida, espere, isso aí é uma lixeira! Leve este aqui. — Disse a colega, apressando-se em pegar um outro balde e ir atrás dela.

A lixeira foi entregue ao rapaz. Ele a posicionou ali mesmo, perto da zeladora, onde não estava visível para os outros estudantes, desabotoou a calça nervosamente e se sentou, jogando-se com a bunda encaixada na boca da lixeira. No mesmo instante, ouviu-se o estrondo de uma explosão líquida de diarreia e um intenso fedor pútrido com notas de azedo tomou conta de todo o espaço circundante à escadaria, podendo ser sentido até no andar de cima.

Cida ficou ali parada, estática e chocada, ladeada por Zefa, que segurava um balde verde com alça e não compreendia o que via. O rapaz, depois de realizar sua necessidade urgente e desesperadora, apresentava um semblante de alívio.

— Olha, eu agradeço muito a vocês. A essa hora eu estaria todo borrado, fedorento e passando o maior vexame dentro do ônibus voltando para casa... Vocês salvaram meu dia! Se não for abusar da boa vontade, tem algum papel por aí para eu me limpar? — Disse ele olhando para as duas mulheres com jeito de estátua e olhos arregalados na sua frente.

— Ele não ia vomitar? — Perguntou Zefa, ainda sem conseguir acreditar muito bem no que acabara de presenciar.

— Não. Quem vai vomitar sou eu. — Respondeu Cida, que já não suportava mais a náusea que a cena lhe provocara. — Dê-me esse balde aqui.