O jantar era...
Fui ao jantar de aniversário de uma amiga muito querida. Gosto dela por vários razões, mas a principal é sua sinceridade. Ela é sincera como eu e, muitas vezes, somos inconvenientes. O jantar foi servido e era frango, coisa que não como nem por um decreto da PRESIDENTE (ou presidente?) e fiquei na maior saia justa. Não tenho nada contra os frangos, muito pelo contrário, se não os como é por respeito e carinho. Quando criança eu morava numa casa com quintal, árvores frutíferas e um grande galinheiro, onde as galinhas passeavam com aquela pose de rainha e o galo, único no pedaço, o que me incomodava. Por quê só um macho com tantas fêmeas? Eu as conhecia pelo nome: dona branquinha, carijó, gorducha, magrucha e Maria Estela, nome que coloquei numa delas, a mais feia, para implicar com uma menina vizinha, muito metida, que morava na casa em frente. Acompanhei a gestação de cada uma delas, e contava os dias, vinte e um, se não me engano, para ver os pintinhos bicando os ovos a fim de se libertarem da casca. Depois a mãe, orgulhosa, passeava com aquela fileira de filhotinhos atrás de si, protegendo-os de tudo e de todos que tentassem se aproximar. Eu me sentia a própria tia dos pintinhos. Como podia pensar em comer aquelas gracinhas só porque cresceram? Seria o mesmo que comer o cachorro, não acham? E eu não sou chinesa pra comer o Fedido, cachorro que não gostava de tomar banho e que minha irmã trouxera pra casa depois que o salvou de um atropelamento. Acho que ele, depois de atravessar a rua, lembrou-se de que havia deixado o cartão de crédito em casa, e voltou para apanhá-lo, sem olhar para os lados. Levou uma trauletada que o deixou falando sozinho, ou melhor, latindo sozinho. Nesse momento minha irmã o salvou e lhe deu esse lindo nome porque ele estava fedido mesmo. Mas eu estava falando de ser sincera. Seria interessante se pudéssemos exercer esse direito. Eu começaria perguntando: amiga, não tinha outra coisa pra fazer para o jantar? Mas não podia fazer isso em pleno aniversário da minha amiga. A uma das convidadas eu perguntaria se ela não tinha espelho em casa, uma vez que usava uma roupa completamente ridícula, que não tinha nada a ver com a sua silhueta de elefante. Ao marido dela eu perguntaria se ele era feio mesmo, se estava com dor de barriga ou se sofria de hemorroida. Para terminar eu pediria à minha amiga para fazer um sanduíche pra mim porque eu não ia comer aquele bichinho de jeito algum. Sei que iria causar constrangimento. Sei que ela iria dizer que eu deveria fazer análise para acabar com o meu trauma galináceo.
Vocês acham que eu vou gastar milhões com analista? Afinal, até hoje, sou feliz, mesmo sem comer frango.
Fui ao jantar de aniversário de uma amiga muito querida. Gosto dela por vários razões, mas a principal é sua sinceridade. Ela é sincera como eu e, muitas vezes, somos inconvenientes. O jantar foi servido e era frango, coisa que não como nem por um decreto da PRESIDENTE (ou presidente?) e fiquei na maior saia justa. Não tenho nada contra os frangos, muito pelo contrário, se não os como é por respeito e carinho. Quando criança eu morava numa casa com quintal, árvores frutíferas e um grande galinheiro, onde as galinhas passeavam com aquela pose de rainha e o galo, único no pedaço, o que me incomodava. Por quê só um macho com tantas fêmeas? Eu as conhecia pelo nome: dona branquinha, carijó, gorducha, magrucha e Maria Estela, nome que coloquei numa delas, a mais feia, para implicar com uma menina vizinha, muito metida, que morava na casa em frente. Acompanhei a gestação de cada uma delas, e contava os dias, vinte e um, se não me engano, para ver os pintinhos bicando os ovos a fim de se libertarem da casca. Depois a mãe, orgulhosa, passeava com aquela fileira de filhotinhos atrás de si, protegendo-os de tudo e de todos que tentassem se aproximar. Eu me sentia a própria tia dos pintinhos. Como podia pensar em comer aquelas gracinhas só porque cresceram? Seria o mesmo que comer o cachorro, não acham? E eu não sou chinesa pra comer o Fedido, cachorro que não gostava de tomar banho e que minha irmã trouxera pra casa depois que o salvou de um atropelamento. Acho que ele, depois de atravessar a rua, lembrou-se de que havia deixado o cartão de crédito em casa, e voltou para apanhá-lo, sem olhar para os lados. Levou uma trauletada que o deixou falando sozinho, ou melhor, latindo sozinho. Nesse momento minha irmã o salvou e lhe deu esse lindo nome porque ele estava fedido mesmo. Mas eu estava falando de ser sincera. Seria interessante se pudéssemos exercer esse direito. Eu começaria perguntando: amiga, não tinha outra coisa pra fazer para o jantar? Mas não podia fazer isso em pleno aniversário da minha amiga. A uma das convidadas eu perguntaria se ela não tinha espelho em casa, uma vez que usava uma roupa completamente ridícula, que não tinha nada a ver com a sua silhueta de elefante. Ao marido dela eu perguntaria se ele era feio mesmo, se estava com dor de barriga ou se sofria de hemorroida. Para terminar eu pediria à minha amiga para fazer um sanduíche pra mim porque eu não ia comer aquele bichinho de jeito algum. Sei que iria causar constrangimento. Sei que ela iria dizer que eu deveria fazer análise para acabar com o meu trauma galináceo.
Vocês acham que eu vou gastar milhões com analista? Afinal, até hoje, sou feliz, mesmo sem comer frango.