Honestidade
Éramos um grupo de seis professores brasileiros visitando os Estados Unidos para conhecer o sistema educacional, propostas inovadoras e projetos que deram certo no ensino de língua inglesa como segunda língua em escolas, universidades e ONGs. Em uma determinada cidade, ficamos maravilhados como a educação a distância estava sendo utilizada para alunos do segundo segmento do ensino fundamental que tivessem ficado reprovados em disciplinas no ano letivo anterior.
A primeira pergunta não foi sobre o ambiente virtual de aprendizagem utilizado, ou como se organizava o processo de estudos, ou outras perguntas relacionadas à operacionalização daquele projeto na escola. Não. A primeira pergunta foi: como vocês sabem que é o aluno mesmo que está fazendo a disciplina, realizando os trabalhos, e não outra pessoa?
Recebemos olhares perplexos. A resposta foi simples: confiamos nas pessoas.
Em um país em que ser honesto dá notícia de jornal e políticos corruptos parecem ser a única opção de voto, não importa o partido ou o período histórico, aquela pergunta parecia a mais pertinente. Afinal, fala-se da corrupção política com asco, quando muitos vestem a camisa do jeitinho brasileiro, levantando a bandeira de que se deve tirar vantagem a qualquer momento.
Nós, professores, nos deparamos dia após dia com alunos que apenas colocam nomes dos colegas em seus trabalhos, ali na última hora, bem na nossa frente. Nós, professores, flagramos diversas tentativas de fraude durante as nossas provas – algumas mais criativas, como a cola em solas de sapato, dentro de embrulhos de bala, ou grampeadas em lenços, até as mais estúpidas, como escrever o conteúdo no braço e na perna, ou a cópia em miniatura do conteúdo. Nós, professores, que deparamo-nos todos os dias com o jeito mais fácil de sair da escola, como não perguntaríamos acerca da verificação da honestidade do aluno da educação básica cursando uma disciplina a distância.
Sim, nós professores que vemos alunos desonestos muitas vezes tentando "se dar bem". Mas, ainda pior, que trabalhamos com a desonestidade em nossas escolas. Seja através de professores que conseguem licença psiquiátrica para não estar na sala de aula pública, enquanto estão completamente sãos para atuar na rede particular. Ou que ficam doentes apenas em dias em que lecionam na rede pública. Nós que nos deparamos com professores que estão "doentes", licenciados, mas postam em redes sociais fotos de passeios e viagens; que ouvimos de muitos colegas desiludidos que o que importa é que seu salário estará depositado no fim do mês...
Nós, que convivemos com a desonestidade do superfaturamento de uniformes e merenda escolar, só para ficar em dois exemplos. Nós, que estamos em salas de aula sem nenhuma estrutura, sem material, sem equipamento, sem que a educação seja realmente levada a sério.
Desculpem-nos pela pergunta: mas como realmente confiar na honestidade das pessoas se a honestidade tem parecido coisa rara?
A primeira pergunta não foi sobre o ambiente virtual de aprendizagem utilizado, ou como se organizava o processo de estudos, ou outras perguntas relacionadas à operacionalização daquele projeto na escola. Não. A primeira pergunta foi: como vocês sabem que é o aluno mesmo que está fazendo a disciplina, realizando os trabalhos, e não outra pessoa?
Recebemos olhares perplexos. A resposta foi simples: confiamos nas pessoas.
Em um país em que ser honesto dá notícia de jornal e políticos corruptos parecem ser a única opção de voto, não importa o partido ou o período histórico, aquela pergunta parecia a mais pertinente. Afinal, fala-se da corrupção política com asco, quando muitos vestem a camisa do jeitinho brasileiro, levantando a bandeira de que se deve tirar vantagem a qualquer momento.
Nós, professores, nos deparamos dia após dia com alunos que apenas colocam nomes dos colegas em seus trabalhos, ali na última hora, bem na nossa frente. Nós, professores, flagramos diversas tentativas de fraude durante as nossas provas – algumas mais criativas, como a cola em solas de sapato, dentro de embrulhos de bala, ou grampeadas em lenços, até as mais estúpidas, como escrever o conteúdo no braço e na perna, ou a cópia em miniatura do conteúdo. Nós, professores, que deparamo-nos todos os dias com o jeito mais fácil de sair da escola, como não perguntaríamos acerca da verificação da honestidade do aluno da educação básica cursando uma disciplina a distância.
Sim, nós professores que vemos alunos desonestos muitas vezes tentando "se dar bem". Mas, ainda pior, que trabalhamos com a desonestidade em nossas escolas. Seja através de professores que conseguem licença psiquiátrica para não estar na sala de aula pública, enquanto estão completamente sãos para atuar na rede particular. Ou que ficam doentes apenas em dias em que lecionam na rede pública. Nós que nos deparamos com professores que estão "doentes", licenciados, mas postam em redes sociais fotos de passeios e viagens; que ouvimos de muitos colegas desiludidos que o que importa é que seu salário estará depositado no fim do mês...
Nós, que convivemos com a desonestidade do superfaturamento de uniformes e merenda escolar, só para ficar em dois exemplos. Nós, que estamos em salas de aula sem nenhuma estrutura, sem material, sem equipamento, sem que a educação seja realmente levada a sério.
Desculpem-nos pela pergunta: mas como realmente confiar na honestidade das pessoas se a honestidade tem parecido coisa rara?