O Agiota
Tunico Boca Rica era um homem abastado e avarento, não fazia nada de graça para ninguém, se emprestava algum objeto sempre tinha interesse em algo em troca, emprestava dinheiro a juros, era bicheiro, vendia cavalos, ferro velho, tinha camelô trabalhando para ele, barraca na feira, extorquia daqui, extorquia dali, fazia toda sorte de negociata, comprava peixe no cais por um preço baixíssimo dos pescadores e revendia para donos de restaurantes por preços altos, era um inferno, o homem não dava ponto sem nó.
Conta-se que Boca Rica emprestou uma certa quantia a sua mãe, no dia do pagamento a velha atrasou pois recebera a aposentadoria atrasada, ele não pestanejou aplicou juros na pobre senhora. Seu irmão caíra enfermo, vítima de acidente não tinha como assumir as despesas, Boca Rica assumiu porém fez o irmão assinar uma procuração autorizando-o a pegar todo mês o auxílio-saúde, pois só assim arcaria com todas as despesas do irmão doente.
Certa feita emprestou uma soma considerável ao dono de um grande mercado, ele já estava de olho do comércio do homem, pois sabia que o comerciante não poderia pagar os juros e ele ficaria com o mercado do Sr. Nicodemos, mas o que Boca Rica não sabia é que o mercado estava em nome da esposa dele uma fina trambiqueira. Certa feita, um amigo seu invadiu porta a dentro aos gritos Boca Rica, Boca Rica, cadê você homem?, estou aqui, fala Tião parece que viu um fantasma!, pior que isso, ofegante sa.. sabe aque... aquele dinheiro que você emprestou ao Nicodemos?, sei e daí, ele não vai pagar, eu sei mas eu fico com o mercado dele, é... é aí que está o problema, o mercado não é dele, o que!!!, quando soube do fato Boca Rica caiu duro, pega água, abana, traz sal a pressão caiu, refeito do susto, Boca Rica se desesperou e passou a telefonar para o Nicodemos todos os dias até quinze vezes por dia, ligava pela manhã, pela tarde, a noite e às vezes pela madrugada, Nicodemos e sua mulher não dormiam mais há meses, certo dia Boca Rica ligou três horas da manhã e disse: vocês não dormir enquanto não me pagarem, vou atormentar a vida de vocês.
Um dia, ou melhor, uma madrugada a mulher do Nicodemos pegou o telefone ligou para Boca Rica e disse: escuta aqui, meu marido não tem como lhe pagar o dinheiro que tomou emprestado e eu não vou lhe pagar nada, desligou o telefone e falou ao marido, agora quem não vai dormir é ele, você viaja amanhã cedo para a Paraíba, eu vendo o mercado e lhe encontro lá no próximo fim de semana, vamos dormir.