FELICIDADE E AMOR DIFERENTES.

"Aqueles que amam e os que são felizes não são os mesmos. A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos."

Proust, um viajante dos mundos e dos hábitos, da observação e da consciência da metamorfose humana em meio às suas histórias, manifesta esse núcleo sentimental.

Amar e ser feliz não é a mesma coisa. Felicidade não é amar? Não é contradição? Não. O infeliz ama. É infeliz por não ser amado, mas ama. A motivação é o amargor, todos sabem, falta de correspondência, é singela verificação.

Olhos do descobrimento. Como descobrir outras visões? Seguindo a viagem do descobrimento, muitos, com os olhos de situar contradições para alguns e compatibilidade para outros. Não são novas paisagens por serem novas visões. Novos olhares sob outras angularidades.

Muitos que amam são felizes, não todos. Relativa sempre a felicidade, absoluta nunca, nem poderia ser.

Um filho se ama sempre. Acontecimento mais violento que um ser humano pode passar é a perda de um filho, ninguém pode imaginar, nem conhecer, só quem passa por tal sofrimento.

Depois de falecido meu pai, estava eu com Dr. Jorge Sader, pai do Jorginho do Recanto, conversando no Campo de São Bento e ele me disse: "O Panza tinha umas coisas estranhas, me disse um dia que amava muito seus filhos vivos, mas amava mais seu filho morto". Pode soar estranho diferençar filhos pelo amor, todos seriam iguais, mas “os que amam e são felizes não são os mesmos” na ótica de Proust. Este é um quadro dessa conceituação. De pronto compreendi o que Dr. Jorge estranhava, meu pai amava aquele a quem queria abraçar, beijar, estar perto e nada mais podia ter senão saudade. A antiga felicidade amada. Mas não só essa compreensível e tranquila linearidade de raciocínio acessível pacificamente.

Uma outra visão se acercava. Amava seus filhos vivos, mas não podia ser de todo feliz, não eram os mesmos sentimentos, o mesmo amor que tinha pelo filho morto. Não poderia ser. Era a mesma pessoa que amava e era feliz? Não, havia um amor diferente e uma outra felicidade em lembrança por outro amor. Pessoas diferentes, estados diferentes em uma mesma pessoa. Houve uma felicidade ainda amada e outra também amada, de formas diversas no sacrário do sentimento da mesma pessoa.

Como em filosofia onde a visão é do hipoteticamente desconhecido ou inexatamente conhecido.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 11/02/2015
Reeditado em 11/02/2015
Código do texto: T5133947
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