HAVAIANAS BRANCAS

Nos tempos de hoje, onde tudo está tão plástico, tão banal, os relacionamentos se tornaram uma espécie de Havaianas brancas na vida de todos os seres humanos.

Podem me chamar de monstro! Podem me chamar de criatura insana e fria, mas minha comparação tem fundamentos. Havaianas brancas são lindas no começo. Branquíssimas, brilhantes, chegam a reluzir num dia de sol de verão. A gente anda por aí, cuida, tem todo o cuidado para não sujar, a gente vai pisando devagar, como que em ovos, tudo pelo bem daquele chinelo tão límpido, tão nosso. Como se aquela brancura natural, aquela coisa alva, fosse a coisa mais importante na vida de uma sandália.

Porém, chega o dia em que ao chegar em casa, você nota que as tiras te sujaram. Você num quer acreditar, olha com olhos mais grossos, mas nota que a tira te sujou. Se decepciona, fica chateado, mas lava. E como lava! Você pega a escova, e quase perde as unhas tentando limpá-la. usa sabão em pó, usa sabão em barra, se bobear, usa até mesmo água sanitária, mesmo sabendo que isso pode estragar você, suas unhas, sua pele, e até o chinelo. Mas você tenta, campeão. Tudo em nome da vida feliz e tranquila com sua chinela.

Os dias passam e você retoma o cuidado, mas eis que as tiras te sujam novamente. Elas sujam seus pés, aquela craca preta, que só sai com álcool. Você se pergunta: Não será a hora de comprar outro? Não será a hora de mudar de chinelo, e parar de se aborrecer? Mas você quer tentar. Você lava novamente. É capaz até de notar que não existe mais aquela brancura, que ele já num brilha mais, mas continua lavando. Continua, pois acredita com grau de utopia, que um dia, magicamente, o chinelo branco voltará ao normal. Não quer enxergar que o branco reluzente, virou a tonalidade gelo-fosco. E assim vai continuando.

Então, ele de repente perde a graça. As Havaianas já estão sujas, você quase não lhe dá atenção. Não tem mais graça estar com elas na rua. É um saco. Cada sujeira nova te irrita. E lavá-las te deixa de mau humor. Deixam-te chateados, pra não dizer puto da vida. Você começa a usar tênis, e você odeia usar tênis. Você começa a usar Crocs, e acha Crocs a coisa mais escrota do mundo. É como um pelo encravado. É como uma espinha, uma dor... Incômoda. Mas remediável.

Então, quando a paciência já se esgotou, as Havaianas antes brancas, agora gelo-fosco, arrebentam. Você simplesmente tem que deixa-las ir. Pensa em pregá-la com uma tachinha, assim, durará um pouco mais. Porém, talvez seja melhor seguir. Talvez seja melhor deixar partir, antes que se torne um mal maior. A brancura nunca mais será a mesma mesmo. O andar sempre te deixará um pouco manco.

Então você se vê descalço. E olhando para os pés das pessoas. Se pega pensando em como poderia ter pisado certo, se não deixasse que somente uma característica tornasse suas Havaianas importantes.

Relacionamentos são como Havaianas Brancas. Casamentos... Bem, esses são como Crocs. Todos julgam, todos fogem... Mas sempre tem alguém querendo saber como é.

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 11/02/2015
Reeditado em 11/02/2015
Código do texto: T5133905
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