SEM DIREÇÃO
Já era noite, talvez próximo das 21 horas, tudo tranquilo somente um senhor parado junto ao interfone da casa ao lado. Abrimos o portão eletrônico e ele pimba, mais do que depressa passou para o lado de dentro do pátio.
Com intimidade de muitos anos de amizade começou a descrever uma rachadura na parede da casa ao lado e os possíveis problemas que dali poderiam surgir.
Perguntas daqui, perguntas dali e nada de lembrarmos dele, coisa óbvia somente ele nos conhecia. Então entramos nas histórias dele e até o ajudamos nas incursões. Uma pergunta começou a esclarecer tudo:
- Por que a esposa não veio, ela havia prometido? Bá esqueci o nome dela como pode ser?
Ele respondeu o nome e disse que ela havia ficado em Itapuã onde moravam. Como uma pergunta puxa outra, pedimos o telefone dela, e ele puxou um bilhete do bolso, único objeto que portava, pois segundo ele havia sido assaltado e havia ficado sem documentos.
Ligamos e a esposa atendeu esclarecendo que ele sofria de Alzheimer e seguidamente fugia e depois não sabia voltar. Às 23 horas estacionou do outro lado da rua um Fiat Uno e desceram a esposa e o vizinho deles que se prontificara a ajudá-los.
Depois de alguns minutos veio a despedida e eles se foram, mas sem antes o motorista protagonizar algo inusitado, ele não tinha a perna esquerda e então encaixava a muleta numa adaptação caseira feita no pedal da embreagem e assim ele empurrava a muleta com a mão esquerda e com a direita movimentava a palanca de mudanças deixando a direção ao Deus dará.
Eu nunca havia estado com alguém acometido de Alzheimer, depois disto torço que Deus sempre esteja na direção deles!