A FIGURA NA AREIA
Caminha. Pela praia. Devagar. Passos curtos. Pegadas na areia. Tão pequenas... Tão jovens... Será jovem ou madura? Terá o frescor do botão? Ou a madureza da rosa? O sol ao longe me impede o detalhe. Divirto-me apenas ao pensar...
O caminhar meio perdido. Meio ausente. Vestido branco. A barra ondula com o vento. Há areia entre os pés. Os vãos dos dedos no entanto não parecem se preocupar.
Cabelos soltos. Voam ao vento. Longos e negros. Não como a noite. Neles há vida. Neles há cachos.
O pescoço alto. Altivo. A cabeça para trás. O ar de confiança. Lábios cerrados e serenos. Um rosto jovem. A pele doura-se no sol. Os braços devagar ondulam. O sol se põe atrás de si. O perfil vai tornando-se silhueta.
Olhos castanhos. Contemplam de longe o azul do mar. Quem sabe o que se passará nesses olhos? Lágrimas... De longe vejo lágrimas.
Quem sabe o que se passará neste momento? Quem sabe as pequenas coisas que estarão nesta mente?
Talvez esteja à espera de um amado. De um amante. Um amor perdido? Uma decepção? Alguém que se foi?
Mas nada mais me resta a imaginar... Porque lá vem a noite. E devagar a minha visão se apaga. Devagar não mais avisto a figura na areia. Nas dunas da praia. E talvez eu seja a alma que chora. Enquanto chega a noite.