Acorda Juli!!! (Floripa: Ame e deixe-a se for capaz!)

Pode parecer absurdo mas não é. Sair de Floripa num domingo, final de tarde em plena temporada de verão pode ser sim uma prova de amor.

Ame-a e deixe-a se for capaz.

Quando falo em capacidade, incluo criatividade e persistência. Do contrario esmorecerá antes de concluir seu abandono.

Mas porque foste? Perguntarão os incrédulos. E o amor?!

Uma experiência inesquecível.

A saída do coletivo lá pelas 19:00 horas, de um domingo, de um final de semana estendido, apoderado de sol e calor se iniciou de forma insignificante. Uma tranquilidade espantosa. Embarcamos no coletivo de 40 lugares não mais de 10 passageiros, no terminal rodoviário de Floripa. Tinham me alertado, não seria fácil abandonar o litoral catarinense.

- Maxx que!!

Partiu e o aumento do batimento cardíaco se deu quando o coletivo entrou em São José. Para acalmar meu "core" embarca uma linda loira.

Rapidamente estamos nos deslocando pela rodovia 101. Defini. Se entrar em Biguaçu desço no trevo de Governador Celso Ramos.

- Ninguém merece andar em um coletivo pra fazer 800 km que parece torneira estragada...

Seguiu na direção norte. E minha cara de espanto acomodou-se. A contração se desfez e o sorriso tomou conta do corpo, num relaxamento merecido. Havia sido um final de semana puxado.

Mas nada está tão ruim que não posso piorar. Não demorou para que o coletivo, nas proximidades de Itapema, enfrentasse um congestionamento.

Era 19h52m e minha única alegria, a essa altura, foi soltar uma flatulência que era só gás, sem umidades, a primeira das últimas 72 horas.

Olhava para os acessos. Todos congestionados. Será que entra em Itapema? Pois entrou! A partir dai o transporte cumpriu sua designação.

Ouvia o Condutor:

- Um passinho a frente por favor.

- Minha senhora, um cachorro só por pessoa!?

- O Senhor deu banho na Galinha para viajar?

- Opa! Opa! Calma ai, sem agressão.

Subiu um sujeito com uma veste toda branca, com um equipamento de apicultor.

O motorista interpelou.

- Moço desliga o fumegador.

No fundo duas mulheres com vestimentas alternativas saíram em defesa:

- Deixa o moço com seu incenso!

Depois de muitos entre tantos, retomamos a rodovia em direção a Balneário. Não demorou para que tudo parasse.

Nessa altura o relógio marcava 20h20m. Consegui ver o motorista correndo para o mato ao lado da rodovia. Uma ambulância abria espaços impensáveis para se deslocar. Pensei. Fedeu!

O batimento estava alto a apreensão tomava conta de todos no coletivo. Mas o condutor voltou. Levantei uma das mão, foi o que consegui, e agradeci.

Retomamos o caminho. Quando chegamos a Balneário, ouvi comentários no coletivo do tipo:

- Será que tem agua ainda depois dos prédios.

- Parece que tem agua depois dos prédios.

- Não era mar!!?

Me chamou atenção a estátua do "jesusinho colorado".

Mas o caos estava instalado. No terminal rodoviário tinha fila de coletivos. Consultei o tempo e eram 21h.

As portas se abriram e o inevitável....

Tinha um pastor alemão em meu colo. trocando algumas palavras entendi que estava viajando com a esposa.

Sugeri:

- Vá para poltrona e manda a esposa para o meu colo...

Péssimo negócio, pesava umas 20 arroba.

Ufa! devo uma gelada pro motora. Guinchou a criatura. Por prevenção pensei em pegar um dos cachorros da mulher...

- Um passinho a Frente.

- Pessoal favor não manter os braços erguidos.

- O uso do leque é proibido.

- vou abrir a ventilação externa.

- Moço já lhe pedi para desligar o fumegador.

As duas mulheres em defesa:

- Olha o preconceito....

Começou um movimento de expulsão do motorista!?

Eu ja estava com saudades das praias catarinenses: Itapema, Balneário , Itajaí...

Mais uma parada. Pelo que entendi estão botando passageiro no compartimento de bagagem.

Há um movimento coordenado querendo que o fumegador e as duas mulheres sejam colocados lá.

Em coro se ouvia.

- Tranca! Tranca!tranca!

Eu apoiei.

Nisso subiu um ambulante na cabine de passageiros.

- Aguinha gelada! Xuros! Paxtel de camarão!

Acabou. Voltamos a andar. Começou a dar uma vontade de mijar. Olhei em direção ao banheiro. Chegar só se for por cima de todos. Desisti e Gritei.

- Posso usar o banheiro?

Responderam:

- Tá ocupado, tem três dentro.

Se ao menos as janelas do coletivo abrisse. Do lado um inocente com uma garrafa de agua pela metade, minha situação se apertando:

- Não quer que o titio põe um pouquinho de chá?

Respondeu:

- Coca Cola.

Vou me aguentando não tem outro jeito.

- Coca cola o titio não tem, mas o chá é uma delícia...

A música rolava solta:

" Talvez esteja em Jaraguá/Joinville ou Blumenau/ Lá por Santa Catarina/Ou talvez em Rio do Sul/Ou Timbó ou Indaial/Sei que é linda esta menina."

Pelo celular questionaram-me.

- O coletivo é pinga?

- Sim, da pura.

Badalava 23h e nada de Blumenau.

Amanheceu 6h e 30 minutos. Reconheci Passo Fundo, estava a caminho de casa.

- Acorda Juli! Sobrevivi! Cheguei em Passo Fundo!

Foi a mensagem que enviei exultante de alegria. Havia desmaiado. Ainda não sei o que fizeram com aquele povo todo. Sei lá se foi alucinação. O cheiro de incenso (marijuana) ainda domina o compartimento de passageiros.

Ao meu lado, reconheço a mulher do pastor alemão...Magra!!

Quando chegar a Ijuí quero ver o que tem no bagageiro.