FOI DEUS
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Gosto de escrever. E de reescrever. Reescrever alguma coisa que eventualmente eu mesmo tenha escrito. Ou que outros escreveram, em poesia ou em prosa. E não acho que isso seja plágio, desde que a gente cite a fonte de inspiração, recriada, no caso. Quando, então, se dispensam as aspas, porque nem sempre a transcrição é literal.
Dito isso, lá vai uma ode ao fado. E uma homenagem ao compositor de Foi Deus, Alberto Janes, e ao ícone Amália Rodrigues. Na verdade, também eu não sei por que se canta o fado. Naquele tom magoado, portador de dor e de pranto. Mas uma coisa é certa: a voz plangente, desfiando um rosário de penas, alivia o sofrimento que a alma sente no peito, e mais que ao corpo, serve-lhe de refrigério, refrigério n’alma. No canto nostálgico, um misto de ventura, saudade, ternura. Talvez amor. Cantando, o efeito é o mesmo do pranto no rosto que nos deixa melhor.
Sobretudo quando se tem fé em Deus que, de acordo com a poesia do fado, deu luz aos olhos, perfumou as rosas, deu oiro ao sol e prata ao luar. Pôs as estrelas no céu, fez o espaço sem fim. Deu luto às andorinhas, e voz e linguagem viva aos seres viventes. E voz privilegiada a privilegiados cantores e cantoras. Foi Deus que também deu voz ao vento, deu luz ao firmamento; e pôs o azul nas ondas do mar. E deu a cada um de nós um oceano d’alma. Foi Deus, enfim, que fez poeta o rouxinol, pôs no campo o alecrim, deu flores à primavera.
E, de acordo com o Gênesis, foi Deus quem criou o céu e a terra, o dia e a noite, o luar e o alvorecer. E estabeleceu limites entre as águas e os territórios. Criou os animais, o homem, a mulher. Dentre as cores, semeou o verde na natureza. Em suma, criou um ambiente inteiro que o ser humano, desfigurando sua imagem e semelhança divina, transformou em “meio” ambiente, dividindo ao meio o que Deus unira. Triste sina, amarga precisão linguística.
Foi Deus. Foi Deus que criou o fado. Pois foi quem criou o poeta do fado...