Casa Saul Luciano

O Saul Luciano marcou época no burgo municipal da Velha Serrana, nos anos sessenta, setenta e mais pra frente. E aí, só pra coincidir com a lembrança da gente.

Longilíneo, olhos azuis, cabelos cortados com o de um astronauta, orbitava e exorbitava nos seus múltiplos empreendimentos, sempre bem sucedidos. Sua marca registrada mais reluzente foi a CASA SAUL LUCIANO, placa bonita de acrílico branco, letras azuis, especializada em eletro-domésticos, onde pontificavam desde aqueles objetos fulgurantes do desejo de toda dona de casa, até a inefável máquina de coser Vigorelli, que segundo o refrão popular, durava até acabar...

E tempo para o namoro? Escasso, se presume, o Saul tinha. E não lhe faltavam aspirantes a rodo, nem que fosse para puro engodo. Mas, morigerado e bem intencionado, além de pela conduta, ilibado, Saul era fiel, de uma só. E nó, que bela namorada arranjou, que toda a cidade, pela escolha, o reverenciou.

Aconteceu, entretanto, que em meio à cotidiana lida, o namoro foi seguindo, anos atravessando e do mais ladino ao mais simplório, começou-se a perguntar, e afinal, quando sairia o tão-esperado casório? Impedimento nenhum havia, era só o tempo que, implacável, corria, e quando enfim seria aquele grande dia?

A loja prosperava, chegou a abrir filais nas vizinhas cidades, suas prendas e vendas, eram colossais.

Até que Nacho, moleque para diacho, um dia, ou numa noite fria um jeito ele arrumou, com uma vírgula de acrílico azul à mão, entre

a CASA e SAUL a pregou...

E com o apoio de toda a cidade dali pra frente, creia gente, foi tudo feliz cidade...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 09/02/2015
Código do texto: T5131191
Classificação de conteúdo: seguro