Já é dia... De novo.
Eu vinha hoje logo cedo, logo que os pássaros abriram os olhos, logo que os meus ainda dormiam, ainda acreditavam que era noite, logo que eu também ainda pensava que poderia descansar por umas duas ou três horas mais.
A minha primeira sensação foi lembrar dos problemas que tenho para resolver, e ainda com o corpo enraizado na cama, nos lençóis, eu, meio que mecanicamente, pedi para que essa Força a qual chamamos Deus desse-me, por misericórdia, um fio de força, que por mais fino que fosse não viesse a arrebentar.
Levantei-me de novo, acho que da mesma forma que fiz ontem, sempre seguindo os mesmos gestos, como se isso fosse um ritual a ser seguido rigorosamente, religiosamente. O banho sem que minha alma sentisse a água, o silêncio em casa só aumenta o meu desconforto. E não posso chorar, porque o tempo não pára e nem espera, tenho exatos vinte minutos para vencer mais essa etapa de uma maratona sem fim e de nada adianta reclamar, lamentar.
Nessa fase do dia, os lamentos podem me custar um minuto e um minuto nessa corrida vale muito mais do que se possa imaginar. Antes de sair, já com as bolsas na mão, já com o medo de perder o horário, já com os olhos rasos de uma umidade gerada por um certo desconforto, uma certa insatisfação, antes de deixar o quarto volto e miro-me no espelho e baixinho, para não acordar a irmã que dorme o sono dos justos, encaro o par de olhos abatidos e ansiosos por mudanças boas, repito para mim, buscando onde há esperança que “eu sou feliz, porque acredito nisso”.
Viver bem é a mais bela arte, e talvez a mais difícil de ser entendida.