PRÓXIMA PARADA: ESTAÇÃO OUTONO
Zilda olha-se no espelho com ar pensativo. Amanhã completará sessenta e cinco anos. Sentimentos conflituosos lhe habitam a alma, pois, pela primeira vez em tantos aniversários, não se percebe feliz.
Ainda é uma mulher atraente e exibe uma compleição física magra e longilínea. Mantém a boa forma sem grandes sacrifícios, presenteada que foi por sua genética.
Observa, no entanto, que sua pele já não tem o mesmo viço, não obstante os miraculosos produtos de beleza usados ao longo dos anos e as visitas regulares ao dermatologista. Aos olhos, falta-lhes um pouco da vivacidade que um dia tiveram. Os cabelos, que Zilda trata a cada quinze dias com profissionais especializados, mantêm-se bonitos, mas ela, que os conhece bem, não lhes enxerga mais o brilho de antes.
Apesar desses poréns, Zilda sabe que é bastante sedutora "para a sua idade". Essa expressão a incomoda. Por que "para a sua idade?" É dessa forma que a elogiam quando sabem quantos anos tem. "Por acaso eu teria de estar como?" pensa, irritada. "Cabelos brancos, presos na nuca em um coque, sentada na cadeira de balanço a fazer crochê?". Imaginando a cena, dá um meio sorriso ao se dar conta de que nunca teve talento para trabalhos manuais.
Zilda tem uma profissão que lhe dá independência e prazer, um casamento de quatro décadas de companheirismo e respeito, filhos já criados e amigos que fizera e preservara ao longo da vida. Sua mais recente alegria fora a chegada da netinha. Era um sentimento único, despojado, livre, diferente do que sentira quando do nascimento dos filhos. "Ser avó é uma dádiva", reflete, depois que se acostumara à nova palavra agregada ao seu nome.
Despertando das divagações, conclui que recebera muito mais graças do que dissabores ao adentrar o outono da vida. Sente-se afortunada. Em pensamento, agradece aos céus por haver chegado aos sessenta anos com o bônus de um futuro para sonhar, realizar, viver.
Subitamente, larga o espelho sobre a cama, levanta-se e sai. Debaixo de uma ducha forte e restauradora, delicia-se com a água tépida a lhe tocar o corpo e a alma. De olhos fechados, imagina os detalhes de sua festa de aniversário, na certeza de que desfrutará cada minuto desse novo tempo.
Créditos de imagem: http://s66.photobucket.com/albums/h280/SusanSarandonSitegallery/Susan/?action=view¤t=1ca9c369d5c23b9222f992108bab6c38.jpg
Curiosidade: A atriz Susan Sarandon, cuja foto ilustra o texto, completou 60 anos em outubro de 2006.
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Zilda olha-se no espelho com ar pensativo. Amanhã completará sessenta e cinco anos. Sentimentos conflituosos lhe habitam a alma, pois, pela primeira vez em tantos aniversários, não se percebe feliz.
Ainda é uma mulher atraente e exibe uma compleição física magra e longilínea. Mantém a boa forma sem grandes sacrifícios, presenteada que foi por sua genética.
Observa, no entanto, que sua pele já não tem o mesmo viço, não obstante os miraculosos produtos de beleza usados ao longo dos anos e as visitas regulares ao dermatologista. Aos olhos, falta-lhes um pouco da vivacidade que um dia tiveram. Os cabelos, que Zilda trata a cada quinze dias com profissionais especializados, mantêm-se bonitos, mas ela, que os conhece bem, não lhes enxerga mais o brilho de antes.
Apesar desses poréns, Zilda sabe que é bastante sedutora "para a sua idade". Essa expressão a incomoda. Por que "para a sua idade?" É dessa forma que a elogiam quando sabem quantos anos tem. "Por acaso eu teria de estar como?" pensa, irritada. "Cabelos brancos, presos na nuca em um coque, sentada na cadeira de balanço a fazer crochê?". Imaginando a cena, dá um meio sorriso ao se dar conta de que nunca teve talento para trabalhos manuais.
Zilda tem uma profissão que lhe dá independência e prazer, um casamento de quatro décadas de companheirismo e respeito, filhos já criados e amigos que fizera e preservara ao longo da vida. Sua mais recente alegria fora a chegada da netinha. Era um sentimento único, despojado, livre, diferente do que sentira quando do nascimento dos filhos. "Ser avó é uma dádiva", reflete, depois que se acostumara à nova palavra agregada ao seu nome.
Despertando das divagações, conclui que recebera muito mais graças do que dissabores ao adentrar o outono da vida. Sente-se afortunada. Em pensamento, agradece aos céus por haver chegado aos sessenta anos com o bônus de um futuro para sonhar, realizar, viver.
Subitamente, larga o espelho sobre a cama, levanta-se e sai. Debaixo de uma ducha forte e restauradora, delicia-se com a água tépida a lhe tocar o corpo e a alma. De olhos fechados, imagina os detalhes de sua festa de aniversário, na certeza de que desfrutará cada minuto desse novo tempo.
Créditos de imagem: http://s66.photobucket.com/albums/h280/SusanSarandonSitegallery/Susan/?action=view¤t=1ca9c369d5c23b9222f992108bab6c38.jpg
Curiosidade: A atriz Susan Sarandon, cuja foto ilustra o texto, completou 60 anos em outubro de 2006.
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