M(eu) caos
“Todas as noites eu tenho que arrumar a bagunça que está em cima de minha cama. Todos os dias há uma bagunça em cima de minha cama. Eu pego roupas e objetos que estão desordenados e “organizo” tudo no cando direito da cama, no lado do colchão onde ponho os pés quando vou dormir. Minha mãe pega em meu pé e fala um bocado sobre a bagunça. Quando ela entra no quarto, já fico esperando ela dizer algo.
Acontece que minha cama é só uma extensão de mim, foi contagiada pela bagunça que eu sou. Barba por fazer, cabelo por cortar e pentear, guarda-roupa por arrumar, livros espalhados, rumo indefinido. Minha mãe fala mais da bagunça da minha cama do que da bagunça que eu sou. Hora ou outra ela me manda cortar o cabelo, me manda (sempre) fazer a barba (ela não gosta de barba, diz que fico feio), me manda comprar umas roupas. Eu me mando fazer todas essas coisas também, cuidar do que é meu, cuidar do meu eu. Mas, nessa minha bagunça, eu me encontro, sei onde está cada coisa. Quando se tem que achar uma coisa feita na bagunça pelos outros é complicado, mas, quando você é quem faz a bagunça (ou quando você é a bagunça), facilmente se sabe proceder.
Talvez minha mãe nunca entenda (se um dia ela entender, será ótimo), mas, eu prefiro ter minha baguncinha, ser uma bangunçona. No m(eu) labirinto eu me encontro e quem me conhece sabe me encontrar também. Não sou nenhuma bagunça drástica, nenhum desordeiro. Essas bagunças, na verdade, são coisas caoticamente organizadas, inclusive eu. Se alguém for se aproximar, é melhor tomar cuidado onde pisa, não quero que ninguém se machuque ou se perca. Estou por aqui, sentado em minha cama bagunçada. É só chegar.”