A VONTADE QUE DÓI
Que jeito de acabar uma semana de sofrimento somente seu: com um pedido de desculpas estampado no rosto de alguém que nunca viu e uma pergunta tragicamente cômica.
- Não, não dói- tem vontade de gritar.
Se encolhe, não por causa do frio de maio ou por vergonha, mas de exaustão. Perdeu as contas de quantas vezes se expôs a médicos que não tinham soluções e a examinaram se desmanchando em pena e os mesmos discursos. Mais um exame não fará diferença.
Disputas nem sempre são justas: às vezes amarguram, decepcionam, devastam e na pior delas vê a alegria diminuir a velocidade e o medo se aproveitar dessa fraqueza. O que transbordava pelos poros, pela voz deixou de ser leve. Virou pavor. confusão.
O jovem médico fala como se a preparasse para o pior.Será que não sabe sobre as realidades que nenhuma tecnologia consegue mostrar?Entrou na escuridão do consultório sem sentir com as mãos o novo formato do seu corpo, a primeira vez em um mês.Inconscientemente deixou a mais linda e nova de suas manias de lado. Ele bem que poderia poupá-la dessa delicadeza forçada e profissional.
- Entendo- o que mais poderia dizer?
Foi fácil entender que pela primeira vez não tem controle do que sente, do que a invade.Oca, faz uma piada sem graça para esquecer as desculpas que inventou para faltar ao trabalho e as perguntas que terá que responder para justificar a interrupção, a criança que não crescerá.
Saí pelo corredor do hospital de cabeça baixa e sentindo uma timidez que não é sua.No quarto o pai do seu filho a espera. Sentido, a abraça com força e pergunta se o exame não pode estar errado. Delicadamente explica que sentiu desde a primeira dor sozinha em casa que tudo havia acabado.
É hora do amadurecimento adiado. Não era hora de ser mãe.
Beijando-lhe a testa ele a consola:
- Amor, vai ficar tudo bem. Estamos juntos.
" Então por que é que dói tanto?"- tem vontade de chorar.
D.SConsiglio