IGNORÂNCIA.
Deu na grande imprensa recentemente, Folha de S. Paulo, Mikhail Bakunin, um dos construtores do anarquismo, secundando as raízes em Locke, foi arrolado como suspeito pela polícia carioca nas investigações por ocasião das manifestações. Era um potencial suspeito. Foi identificado, ouvido? Como era suspeito?
“O inquérito de mais de 2 mil páginas, produzido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que responsabiliza 23 pessoas pela organização de ações violentas em manifestações de rua, aponta o filósofo Mikhail Bakunin como um dos suspeitos. Morto em 1876, o russo é considerado um dos pais do anarquismo.”
Bakunin era suspeito por terem destacado seu pensamento, assim o fez um dos manifestantes em uma mensagem interceptada pela polícia. Uma professora da UERJ menciona esse episódio para demonstrar a fragilidade do inquérito. “Do pouco que li, posso dizer que esse processo é uma obra de literatura fantástica de má qualidade”, diz.
Essas increpações são fruto da ignorância, a mais incontestável ignorância.
Como funciona a história? Mediante registro dos fatos, bem verdade que com dissonância de historiadores, contradições, mas há a essência indiscutível, imutável. Exemplificamos. Há contradições nos evangelistas, mas contradições que levam ao desencontro sem comprometimento do fato histórico essencial, e existem muitas, como: Judas "traiu" Jesus mediante uma ordem sua? Ou Judas traiu-o por sua autorrecriação? Mateus, 2.11, refere que “Entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe, e postando-se o adoraram, e abrindo os seus tesouros ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra”, diversamente de Lucas que descreve o nascimento em uma manjedoura. São episódios secundários, mas registrados formalmente entre tantos outros, induzindo contradição que não compromete a essencialidade, logo que Judas traiu e Jesus nasceu.
É assim que funcionam registros históricos. O que vivemos no país atual tem registros históricos, ESSENCIAIS, que não serão mudados, estão evidenciados de forma cabal, integram o acervo de quem lhes deu causa. Negá-los como faz a ignorância não é só filho da insciência, mas irmão da ousadia.Não a ousadia em pensar, criar, mas a ousadia da invectiva que contra todas as provas é festejada.