Carnaval nos claustros
1. Será um carnaval diferente. Nos três dias de folia estarei, entre dezenas de colegas, comemorando os 75 anos de fundação do seminário seráfico onde estudei, na primeira década dos anos 1950.
2. A programação festiva, carinhosamente preparada, será cumprida no próprio seminário que fica na cidadezinha de Lagoa Seca a poucos quilômetros de Campina Grande, na Paraíba. Serão três dias de alegria bem franciscana.
3. Mais de duzentos ex-seminaristas e alguns frades estarão por lá ocupando os amplos claustros do belo seminário e a clausura do convento construídos, no alto da serra da Borborema, por valorosos padres franciscanos alemães.
O seminário funcionou de 1941 a 1961; o convento continua em plena atividade, com sua comunidade trabalhando e rezando.
4. Diria que, só assim me verei livre do carnaval de Salvador que, infelizmente, perdeu sua originalidade, na música e na sua liturgia. Agigantou-se de tal forma que virou uma balburdia ricamente financiada.
Apertados, exprimidos, sufocados, os foliões brincam e pulam entre camarotes gigantes e suntuosos. E o que é pior: edificados nos mesmos locais dos carnavais brincados, no chão da avenida, há décadas pelos soteropolitanos e só por eles.
5. O carnaval de Salvador é hoje o carnaval dos turistas. Aos milhares eles desembarcam na capital baiana e muitos, digamos a verdade, sem o sublime propósito de brincar pacificamente.
Aproveitam-se de que, no carnaval da Bahia "tudo se pode", e, com a colaboração de baianos mal educados transformam a festa numa desmedida e permissiva fuzarca. O soteropolitano que mora no circuito carnavalesco e adjacência "que se lenhe", como se diz por aqui.
6. Uma prova inequívoca de que as coisas mudaram e mudaram para pior é que, chegou o carnaval, é não se ouviu, pelo menos até agora, uma única música carnavalesca capaz de encantar o folião.
E também àqueles - e este é o meu caso - que há muito abandonaram o "chão da praça" e vivem, hoje, no aconchego dos seus lares relembrando, com uma saudade imensa, a marchinha ou as marchinhas que marcaram o seu último carnaval.
7. Talvez para provocar este mísero cronista, andaram me perguntando se eu já havia escolhido a música que pode lembrar, para sempre, o carnaval que agora se inicia.
Minha reação foi imediata. Disse que a minha preocupação era a de que, de repente, ganhasse o gogó da multidão desvairada uma musiquinha nojenta como Lepo-lepo, maculando, de vez, uma festa em que já se cantou Jardineira, Aurora, Bandeira Branca, Pastorinhas e Máscara Negra.
8. A propósito, o belo cronista, memorialista, jornalista Ruy Castro, no seu livro A Canção Eterna, conta que, uma revista pedira sua opinião "sobre as cinco maiores marchinhas da história do Carnaval."
Ruy não hesitou e indicou mais do que as cinco solicitadas: Cidade Maravilhosa (1935), Uma andorinha não faz verão (1934) , Aurora (1941), Pirata da perna de pau (1947), A lua é dos namorados (1961), Ó abre-alas (1899), Teu cabelo não nega (1932), Taí, A turma do funil (1956), Tem nego bebo aí (1955) Ala-la-ô (1938) Touradas em Madri (1938), Mamãe eu quero (1937) e Saçaricando (1952).
9. Não hesito em concordar com o biógrafo de Carmem Miranda. Mas, ao seu rol, acrescentaria outras marchinhas que marcaram época: Me dá um dinheiro aí; Cachaça não é água, Cabeleira do Zezé, Lambretinha, Chiquita bacana, Saca-rolha.
10. E uma marchinha chamada Confete - (Confete/ pedacinho colorido de saudade/Ai, ai, ai,/ Ao te ver na fantasia que usei/ Confete/ Confesso que chorei etc., etc.) - marchinha do David Nasser com a qual me despedi, para sempre, do Rei Momo.
1. Será um carnaval diferente. Nos três dias de folia estarei, entre dezenas de colegas, comemorando os 75 anos de fundação do seminário seráfico onde estudei, na primeira década dos anos 1950.
2. A programação festiva, carinhosamente preparada, será cumprida no próprio seminário que fica na cidadezinha de Lagoa Seca a poucos quilômetros de Campina Grande, na Paraíba. Serão três dias de alegria bem franciscana.
3. Mais de duzentos ex-seminaristas e alguns frades estarão por lá ocupando os amplos claustros do belo seminário e a clausura do convento construídos, no alto da serra da Borborema, por valorosos padres franciscanos alemães.
O seminário funcionou de 1941 a 1961; o convento continua em plena atividade, com sua comunidade trabalhando e rezando.
4. Diria que, só assim me verei livre do carnaval de Salvador que, infelizmente, perdeu sua originalidade, na música e na sua liturgia. Agigantou-se de tal forma que virou uma balburdia ricamente financiada.
Apertados, exprimidos, sufocados, os foliões brincam e pulam entre camarotes gigantes e suntuosos. E o que é pior: edificados nos mesmos locais dos carnavais brincados, no chão da avenida, há décadas pelos soteropolitanos e só por eles.
5. O carnaval de Salvador é hoje o carnaval dos turistas. Aos milhares eles desembarcam na capital baiana e muitos, digamos a verdade, sem o sublime propósito de brincar pacificamente.
Aproveitam-se de que, no carnaval da Bahia "tudo se pode", e, com a colaboração de baianos mal educados transformam a festa numa desmedida e permissiva fuzarca. O soteropolitano que mora no circuito carnavalesco e adjacência "que se lenhe", como se diz por aqui.
6. Uma prova inequívoca de que as coisas mudaram e mudaram para pior é que, chegou o carnaval, é não se ouviu, pelo menos até agora, uma única música carnavalesca capaz de encantar o folião.
E também àqueles - e este é o meu caso - que há muito abandonaram o "chão da praça" e vivem, hoje, no aconchego dos seus lares relembrando, com uma saudade imensa, a marchinha ou as marchinhas que marcaram o seu último carnaval.
7. Talvez para provocar este mísero cronista, andaram me perguntando se eu já havia escolhido a música que pode lembrar, para sempre, o carnaval que agora se inicia.
Minha reação foi imediata. Disse que a minha preocupação era a de que, de repente, ganhasse o gogó da multidão desvairada uma musiquinha nojenta como Lepo-lepo, maculando, de vez, uma festa em que já se cantou Jardineira, Aurora, Bandeira Branca, Pastorinhas e Máscara Negra.
8. A propósito, o belo cronista, memorialista, jornalista Ruy Castro, no seu livro A Canção Eterna, conta que, uma revista pedira sua opinião "sobre as cinco maiores marchinhas da história do Carnaval."
Ruy não hesitou e indicou mais do que as cinco solicitadas: Cidade Maravilhosa (1935), Uma andorinha não faz verão (1934) , Aurora (1941), Pirata da perna de pau (1947), A lua é dos namorados (1961), Ó abre-alas (1899), Teu cabelo não nega (1932), Taí, A turma do funil (1956), Tem nego bebo aí (1955) Ala-la-ô (1938) Touradas em Madri (1938), Mamãe eu quero (1937) e Saçaricando (1952).
9. Não hesito em concordar com o biógrafo de Carmem Miranda. Mas, ao seu rol, acrescentaria outras marchinhas que marcaram época: Me dá um dinheiro aí; Cachaça não é água, Cabeleira do Zezé, Lambretinha, Chiquita bacana, Saca-rolha.
10. E uma marchinha chamada Confete - (Confete/ pedacinho colorido de saudade/Ai, ai, ai,/ Ao te ver na fantasia que usei/ Confete/ Confesso que chorei etc., etc.) - marchinha do David Nasser com a qual me despedi, para sempre, do Rei Momo.