DITA DURA MAS NÃO TÃO DURA ASSIM

Cresci num lar paupérrimo, mas desde cedo tive a consciência que para melhorar de vida teria que me empenhar e assim fui matriculado aos cinco anos no colégio junto a igreja Nossa Senhora de Belém e dai para frente fui devorando o primário, o ginásio, o científico e a Academia de Polícia Militar e pronto eu já tinha uma profissão e um emprego e não era mais paupérrimo.

Durante este tempo veio e se estabeleceu a tal dita dura. Volta e meia alguns ginasianos gazeavam as aulas e iam ao Centro de Porto Alegre na busca de sarna para se coçarem, eu preferia estudar. Um dia, um raro dia o professor adoeceu e não havia um substituto, então fomos mandados para casa, mas nem todos foram preferiram dar uma espiada num protesto que havia no Centro e eu resolvi acompanhar. Descemos do ônibus e era gente correndo para todos os lados. Alguns estudantes da UFRGS jogavam bolinhas de gude para derrubarem os cavalos, abaixei-me e juntei três ou quatro bolitas e peguei o ônibus na mesma perna. Nunca mais quis saber de chegar perto da dona dita dura.

Tratei de fugir, pois já a conhecia da revista Veja que quinzenalmente lia e certamente não iria emprestar o meu lombo para apanhar por conta de uma briga que não era minha, mas daqueles que estavam a serviço dos comunistas da época. Ele queriam implantar alguma coisa parecida com Cuba, URSS ou China, tudo isto por conta de um exército de estudantes mal informados.

Hoje quase sessentão fico me indagando sobre o que teria acontecido se tivessem estabelecido aqui no Brasil um regime similar ao de Cuba?

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 07/02/2015
Reeditado em 19/04/2015
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