Quem era o louco?
Rio, 40 graus. Mais especificamente: Duque de Caxias, 43 graus com sensação térmica de muito mais. Ponto de ônibus na Av. Manoel Teles, quase em frente à loja Marisa. Calor insuportável. Rostos suados e cansados sob o sol de mais de meio-dia. Bafo quente subindo do asfalto tornando o ar quase irrespirável. Nem nas lojas os aparelhos de ar condicionado pareciam dar conta da temperatura tão alta daqueles dias de janeiro. Dá para perceber os olhares sonhando com praias, cachoeiras, piscinas, chuveiros, baldes, mangueiras d’água. E chuva. Ah, a chuva seria muito bem-vinda.
Do outro lado da rua, de um dos pequenos e quase não notados prédios, um cano deixava uma água límpida cair. Parecia a água de um enxague de roupa ou talvez alguém tivesse lavado o piso e estava jogando a água no arremate do serviço cobiçado àquela altura.
Foi então que ele surgiu. Apenas uma bermuda e chinelos. Os últimos, talvez por falta de opção, pois não dava para arriscar queimar os pés naquele chão tão quente. Ele surgiu do nada. Ninguém reparou na direção em que ele vinha. De súbito, ele se encontrou com aquela água fresca jorrando. Parou e tomou um bom banho ali mesmo. Se esbaldou, aproveitando aquele instante. Esfregou os braços, molhou o rosto, deixou a água cair em sua cabeça e escorrer por todo o corpo. Parecia sorrir, mas não se podia ter certeza, pois a miopia é limitadora.
Do ponto de ônibus, uns comentários. Só pode ser louco. Coitado, não tem casa. Eita, que o homem não sabe nem de onde vem essa água toda. No meio dos comentários, suspiros reprimidos. Que inveja do louco! Que inveja da alegria que ele sentia naquele instante, alheio aos comentários das pessoas normais do outro lado da rua. Que alegria que ele sentia e como soube aproveitar cada segundo daquele breve momento!
E ele se foi. Corpo e alma lavados. Refrescado. Feliz.
As pessoas desejando ser um pouco loucas também enquanto as últimas gotas ainda caíam na calçada. Talvez o homem tenha dado uma olhadela para o outro lado da rua e sentido pena dos loucos que estavam por ali assistindo à cena.
Rio, 40 graus. Mais especificamente: Duque de Caxias, 43 graus com sensação térmica de muito mais. Ponto de ônibus na Av. Manoel Teles, quase em frente à loja Marisa. Calor insuportável. Rostos suados e cansados sob o sol de mais de meio-dia. Bafo quente subindo do asfalto tornando o ar quase irrespirável. Nem nas lojas os aparelhos de ar condicionado pareciam dar conta da temperatura tão alta daqueles dias de janeiro. Dá para perceber os olhares sonhando com praias, cachoeiras, piscinas, chuveiros, baldes, mangueiras d’água. E chuva. Ah, a chuva seria muito bem-vinda.
Do outro lado da rua, de um dos pequenos e quase não notados prédios, um cano deixava uma água límpida cair. Parecia a água de um enxague de roupa ou talvez alguém tivesse lavado o piso e estava jogando a água no arremate do serviço cobiçado àquela altura.
Foi então que ele surgiu. Apenas uma bermuda e chinelos. Os últimos, talvez por falta de opção, pois não dava para arriscar queimar os pés naquele chão tão quente. Ele surgiu do nada. Ninguém reparou na direção em que ele vinha. De súbito, ele se encontrou com aquela água fresca jorrando. Parou e tomou um bom banho ali mesmo. Se esbaldou, aproveitando aquele instante. Esfregou os braços, molhou o rosto, deixou a água cair em sua cabeça e escorrer por todo o corpo. Parecia sorrir, mas não se podia ter certeza, pois a miopia é limitadora.
Do ponto de ônibus, uns comentários. Só pode ser louco. Coitado, não tem casa. Eita, que o homem não sabe nem de onde vem essa água toda. No meio dos comentários, suspiros reprimidos. Que inveja do louco! Que inveja da alegria que ele sentia naquele instante, alheio aos comentários das pessoas normais do outro lado da rua. Que alegria que ele sentia e como soube aproveitar cada segundo daquele breve momento!
E ele se foi. Corpo e alma lavados. Refrescado. Feliz.
As pessoas desejando ser um pouco loucas também enquanto as últimas gotas ainda caíam na calçada. Talvez o homem tenha dado uma olhadela para o outro lado da rua e sentido pena dos loucos que estavam por ali assistindo à cena.