Fazer o quê?
Aos 17, 20 anos, eu olhava para as pessoas com minha idade atual e as achava desinteressadas pelo meu universo, exceto claro, a parte que era diretamente criada por elas para gente de minha idade. A energia própria daquele período não me deixava ver o epicentro, a razão de tamanho marasmo, cuidados excessivos, até medo. Os diálogos eram voltados para o essencial da relação, mesmo assim com ajustes para os dialetos sincronizarem. Obviamente havia jovens que pareciam ter o “ritmo” parecido com os dos mais velhos. Eu os achava de intelectuais metidos a precoces desajustados, tristes e infelizes. Ainda hoje muitos desses jovens, que na verdade em sua maioria são brilhantes, ainda me surpreendem, possivelmente porque conservo fragmentos daquele jovem ingênuo e descompromissado. Esse sentimento de “ainda ser o mesmo” é comum em muita gente de minha idade. Comprova-se isso em insights no espelho, quando a gente se olha e pergunta: “quem esse ancião aí olhando pra mim?” Caso haja disposição para ser mais jovem de espírito há de ser ter carisma, talento, estilo etc. para não andar pelo limiar do ridículo. É preciso usar-se as doses certas de jovialidade elegante. As comprovações inequívocas da segregação “voluntária” de que somos vitimas se dão pela falta de atualização. As modas, como estamos carecas de saber, se cansam de passar e nós de aderirmos. Sabemos que elas perdem a importância porque tem vida curta, isso quando não são quase as mesmas de outros tempos dando-nos aquela sensação de: “olha coitados, eles estão passando sem saber por tudo que já passamos”. É uma espécie de despeito pela impossibilidade de ser um deles, então lanço meu olhar de condescendente e magnânima cumplicidade... Fazer o quê?