Cenas inesquecíveis – Parte II

Uma cena do filme “Sociedade dos poetas mortos” me marcou muito. Lembro-me de que, logo que surgiram os vídeos cassetes, o meu marido chegou com um, instalou-o e nos disse que fôssemos alugar alguns filmes para inaugurar aquele momento. Chamei os meus filhos e fomos a uma locadora. Todos escolheram o que lhes interessaram e eu me senti atraída por “Sociedade dos poetas mortos”. Enfim, todos reunidos diante da TV, chegou-se ao consenso de que o escolhido por mim inauguraria o vídeo cassete.

Neste filme o ator Robin Williams interpreta o professor Keating, contratado para dar aula de Literatura na escola tradicional Welton Academym, que tinha disciplina bastante rígida. Essa escola preparava alunos para serem grandes profissionais na área da Medicina, do Direito, na Engenharia. Havia um padrão criado por ela para ser aplicado, mas o Professor Keating dá destaque à individualidade. Mostra que os alunos são donos do seu próprio destino e devem fazer escolhas de acordo com o seu agrado e não mantendo o foco no que a sociedade espera deles.

Durante o desenrolar das cenas, há um destaque para a mensagem do “Carpe Diem” ou seja, “aproveite o dia”. O professor com o seu jeito carismático provoca cada aluno a refletir, fazendo com que suas aulas se tornem atraentes. Por ser consciente da missão do professor, que constrói o futuro de cada estudante, as suas palavras eram imbuídas de tom envolvente, operando verdadeiras mudanças na mentalidade deles. Havia sempre o desafio de sair da zona de conforto e enfrentar os limites de cada um. Esse método criou um choque na direção da escola, principalmente quando ele fala aos alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos".

O ponto culminante de toda tensão acontece quando os alunos quebram categoricamente as regras do colégio e, num gesto de verdadeira admiração ao professor, sobem um a um nas carteiras e exclamam “O captain, my captain!”…“O captain, my captain!”…

No instante em que aconteceu essa cena de apoio incondicional ao professor, percorri com o olhar cada um dos que comigo se encontravam e não havia nenhum olhar sem o brilho das lágrimas. O silêncio tomou conta da sala e todos vivenciaram a emoção marcante e inesquecível.

Recentemente o ator que representou o professor faleceu. Ao ouvir a notícia, revivi como um vídeo tape toda aquela cena. Na verdade aquele ator com o seu talento fabuloso fez da cena algo único. Ele era o gênio do humor e um excelente ator dramático, mas infelizmente sofria com períodos de depressão, como também de envolvimento com álcool e drogas. Parece um paradoxo, uma pessoa que levava alegria em vários filmes de humor ter essas fases de sofrimento e amargura tão fortes que culminaram com o triste desfecho, privando os seus admiradores de vê-lo em novas cenas.

Mas o legado de sua atuação está aí e me faz eleger a cena inesquecível de “Sociedade dos poetas mortos” com uma das que me marcaram.

Déa Miranda
Enviado por Déa Miranda em 05/02/2015
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