A MULHER QUE CONVERSAVA COM OS VENTOS

(Por Dilso José dos Santos)

“Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando.” Assim costumava dizer Ana Terra. Eis o vento, o tempo, O Tempo e o Vento... E aproveitando esta brisa, falemos então dela, de Ana, a Ana de todos os ventos.

Quem um dia não a imaginou real, perto, tão perto que chegou a reconhecê-la em um familiar distante? Já ouvi pessoas afirmarem ter sido Ana uma pessoa existente, ou no mínimo, que já existiu. Não os censuro, pois ela viveu em mim também. Viveu enquanto relia a obra (‘O Continente’, o primeiro livro da trilogia ‘O Tempo e o Vento’, de Erico Veríssimo). Sim, a personagem parida por Erico se perdeu em mim, foi ganhando formas novas sob minha voz, minhas imagens, meu conhecimento de mundo desnudado pela leitura.

Ouviram? Está ventando, algo importante vai acontecer... Então explico o que me aconteceu: o ventou zuniu um tempo novo aqui em casa, minhas leituras ganharam outra leitora. De Veríssimo para mim, de mim para minha filha. Sim, ela anda fazendo a velha cidadezinha de Santa Fé reviver dentro de si. Como é bom ouvir dela o fascínio das vozearias que brotam e vão reconstruindo o que há tempos já haviam ocorrido em mim... Desse modo, esses ventos já sopram além dos tempos, uma vez que sempre é hora de visitá-lo, basta dispor-se a sonhar e entregar sua fome aos apetites da obra.

Como sempre, não darei o resumo, muito menos tomarei posturas didáticas por aqui. A Literatura, assim como toda expressão artística, não está para moralizar ou te auxiliar em caminhos “certos” da vida, ela existe para inquietar. Aqui em casa reinventamos as nossas sob duas perspectivas: uma que refiz e outra refeita por minha filhota. Ler é isso: um caminho para pluralizar verdades. Pluralizar caminhos onde sopram ventos e onde se perdem todos os tempos...

Dilso Santos
Enviado por Dilso Santos em 02/02/2015
Código do texto: T5122978
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.