Alô, Iemanjá
         
          1. Hoje é dia de saudar Iemanjá. E aqui deixo a minha saudação, no mais puro Yorubá: Odò-Ìyá!

          2. Em Salvador, as homenagens ao mais querido dos orixás acontecem no mar do Rio Vermelho. Na belíssima enseada desse simpático bairro, o mais boêmio da capital, os baianos, ligados ou não no Candomblé, estarão hoje saudando, com rezas, cantorias e vivas, a rainha de todas as águas; a água dos rios e a água dos mares.
          3. Homenageiam o orixá feminino, como sabem, oferecendo-lhe presentes que alimentam sua vaidade: pentes, espelhos, sabonetes, perfumes e flores.
          4. Esses presentes são levados pelos pescadores, em embarcações coloridas, enfeitadas e alegres, e depositados em águas profundas. Diz a tradição, que se os presentes não retornarem à praia, trazidos pelas marés, é porque Iemanjá os recebeu com agrado e gratidão. E então haverá peixes pra valer.
          5. Na Bahia, a festa de Iemanjá, com essa beleza e solenidade, teria nascido em 1923. O mar, maltratando os pescadores, não lhes dava nenhum tipo de peixe, nas suas longas e perigosas pescarias. Voltavam para casa desolados, porque de redes vazias.
          O que deixara de acontecer, no dia 2 de fevereiro daquele ano, depois da solene entrega de oferendas à rainha das águas, pelos bravos homens do mar.
          6. No sincretismo religioso, Iemanjá corresponde a Nossa Senhora da Conceição, a Nossa Senhora das Candeias, a Nossa Senhora da Piedade e a Nossa Senhora dos Navegantes.           Como católico, sem preconceitos, nutro particular simpatia por Iemanjá. Certamente porque esse orixá tem a ternura que encontro numa Maria especial e toda cheia de Graça da minha Igreja, Maria Santíssima.
          7. A cada ano, no dia 2 de fevereiro, a esperança se renova no coração de cada pescador; a esperança de que, depois da homenagem, lançadas as redes, nenhuma pescaria resulte em fracasso, com a ausência de peixes, do mais simples ao mais precioso.
          8. Pena que os peixes abençoados por Iemanjá cheguem tão caros à mesa dos consumidores.
          Dia desses, me deu vontade de comer uma moqueca de vermelho - que no Ceará meus conterrâneos chamam de pargo - e desisti.      Desisti porque o quilo do nobre e saboroso pescado era impraticável; era proibitivo.
          9. Nos restaurantes (até nos mais simples) peça o dileto amigo um badejo - que no Ceará meus conterrâneos chamam de sirigado - e se assuste com o preço que lhe será cobrado por no máximo duas postas. 
          10. Iemanjá, meu querido orixá, faça, por favor, o preço do peixe baixar. Lembre-se, ó doce rainha de todas as águas, que a Quarema se aproxima, que a Semana Santa está chegando, e que, nesses dois períodos litúrgicos, ainda há quem pratica, com o rigor d´outrora, o jejum e a abstinência. Èéru-Iyá!
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 02/02/2015
Reeditado em 02/02/2015
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