A banal glorificação ou a inexistencia de Hanna Arendt
Arendt cunhou com precisão a expressão "a banalidade da violência" coisa que outros intelectuais através dos anos antes dela, já sabiam dessa inerência aos humanos.
Há algum tempo eu me recusava ver o filme Jogos Vorazes, apesar de admirar as performances da atriz principal. Eu me recusava porque algo em meu intimo também recusava um entretenimento onde o mote principal era o assassinato de adolescentes entre si, alguns ainda na puberdade.
Este filme teve continuidade.
Ontem decidi violentar meu intimo como cobaia da filosofa em questão. Dezesseis crianças se assassinam num reality-show.
Pensei que estava quite com meus demônios e insensível à violência.
Nada poderia me abalar mais. Quis provar isso a mim mesmo. Fui procurar na internet pelas decapitações do ISIS.
Achei, vi dezesseis militares sírios sendo degolados. A serenidade em seus rostos enquanto suas gargantas eram cortadas, me fez passar mal. Fiquei impressionado com essa serenidade. Algo não bate aí.
Minha repugnância se elevou acima do que sinto por quem vota em certos políticos de novo e de novo.
Entretanto, eu sentiria a mesma repugnância se as gargantas cortadas fossem destes assassinos malucos do Isis.
O filme me repugnou mais do que a imagem das dezesseis gargantas cortadas. Não seria possível relatar aqui todo o mérito de uma ficção em confronto com uma realidade.
As imagens das decapitações me chocaram, mas eram historicamente um déjà-vu.
Quem nunca viu alguma imagem de decapitação nos filmes?
A citação de Hanna aqui se aplica.
Então executivos da industria cinematográficas conseguem ir além dessa banalização, levando milhões a acelerarem seus níveis de adrenalina, gastando milhões de dólares, pra sadisticamente assistirem métodos dolorosos de crianças se matarem.
Eu pergunto; desde dos primórdios, passando pelo Holocausto e as recentes decapitações, que ainda nos repugnam, esbarram, não na citação da afirmativa de Hanna, mas no alerta que ela nos deu, então por que nós não tomamos medidas que explorem mais a repugnacia a violência? Simples assim.