Soraya ou Mirna,vai saber.
Os nervos de aço cambalearam suas pernas. Tremeram mais do que vara verde. Dava pra ver o suor escorrendo pelas beiradas, como larápio fugindo da cena do crime. Pouco se sabia dele ou das duas artimanhas. Era velho demais para mostrar suas armas e estreante ainda para saber a deixa de sair de cena. Já se passavam das onze e nada de voltar pra casa. Por certo os colonos aquecidos das outras terras eram mais ternos do que aquele lençol inerte e encardido da cama de todas as noites. Talvez estivesse morto, deixado numa calçada qualquer para os pisantes esfarelarem, do jeito que a vida sempre lhe fez. Qual nada. Estava no bar de sempre, encharcando a cara de licor e saliva baratas. As vagabundas tão queridas já não o queriam mais. De tão rasgado e chutado, nada mais se vazia valer nos rincões daquela alma puída. Podia dizer adeus para as baratas que ainda lhe faziam festa. Podia dizer cheguei para a moça do bar, Soraya ou Mirna, vai saber. Lembrava dos tempos de ativa, quando colocava o rifle sobre os ombros e seguia em procissão atrás da santa. O trompete os guiava feito guizo certeiro. Suas mãos raladas, secas, já não sentiam mais os espinhos, nem tampouco o cheiro da paixão. Agora jazia lá, flertando com suas próprias cantigas de ninar o que sobrara do almoço, talvez da janta, talvez da vida. Poderiam dizer que fora banido daquele chão, ou quem sabe das têmporas rangidas d´além mar. O sangue lusitano teimava em empacar. As cores da bandeira ainda traziam o cheiro do mar - vadio e pacato como sempre se desejou. Então fez o que seu fardo mandara: sacudiu as ventosas aflitas dessa tresloucada cantoria e foi dormir. Se dependesse dele, para sempre. Se dependesse dela, para nunca mais. Se dependesse de mim, sei lá.
------------------------------------------------------
visite o meu site www.vidaescrita.com.br