Ah! Se definissem as coisas...
Tenho observado, durante a vida, que a maioria das discussões prospera porque seus protagonistas falam de coisas diferentes, ou melhor, falam de uma mesma coisa, mas sem defini-la; sem conceituá-la; discutindo um assunto sem limites, sem saber do que se trata, aí é que divergem e diversificam as opiniões, até opinarem contrariamente sobre um mesmo assunto... Nesse sentido, ao se definir alguma coisa, sempre sua finalidade e forma, enquanto “causas final e formal de Aristóteles”, estão contidas na sua definição. Esclareço: Como definir cadeira, sem a ideia de sentar? Ou cama, sem a de deitar? São dois móveis, talvez de madeira, da mesma cor, de um mesmo designer, mas com finalidades e formas diferentes. Dar-se-ía o mesmo com o garfo e a colher; são talheres, mas substancialmente com finalidades e formas distintas: com a colher o leitor toma sopa; com o garfo, espeta carne. Os dois levam comida à boca, mas dificilmente se espeta carne com a colher ou se toma sopa com o garfo...
Ultimamente, o Charlie Hebdo Journal episodiou debates sobre a liberdade, especialmente sobre a “liberdade de imprensa”, sem se definirem limites à liberdade, já que o verbo definir, “definire” em latim, significa delimitar, colocar o objeto “definiendum” dentro de um diagrama, de um círculo representativo; isso nos explicita a lógica. Já os limites da liberdade, em relação à ação humana, é a Ética que nos admoesta o sentimento limitativo do dever, no “tudo posso, mas nem tudo devo”... Lamentavelmente, hoje, limites estão ausentes na educação da criança, do adolescente, naquilo que filhos ou filhas voluntariosamente exigem, por cima de pau e pedra, não importam as consequências...
Segundo dicionários escolares, a liberdade em si, civil, de ensino ou de imprensa, é a faculdade de poder pensar, de agir na comunidade ou na sociedade segundo sua própria vontade e determinação, respeitando normas e leis, e não tolerando qualquer opressão à liberdade, o que seria “anormal, ilegítimo e imoral”. Já dicionários filosóficos fundamentam a conceituação de liberdade no “livre arbítrio”: Na ativa indiferença aos instintivos ou subjetivos imperativos, segundo a qual o homem, avaliando sua capacidade para tal ação e tendo todas as condições de agir ou de não agir, pode agir ou não agir. Enfim, pode agir, mas depois de refletir se deve... Daí, Salomão considerar sabedoria tudo aquilo que provém do discernimento. Ah! Se as coisas sempre pudessem ser definidas...