"JORNALISTA É UM POBRE MISERÁVEL RICO"

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Ao jornalista Peninha, de Goiás, onde quer que esteja agora

“Jornalista é um pobre miserável rico!”

A intrigante frase foi pronunciada pelo jornalista, Peninha, de um jornal de Goiás quando exercia a função de relator da “Carta de Águas de São Pedro”, resultado do III Encontro Nacional de Jornalistas, promovido pela Fenaj, no Hotel Fazenda Fonte Colônia Verde, no município paulista de Águas de São Pedro, em maio de 1988, diziam que era um Hotel Fazenda do SENAC, mas não tenho certeza. A frase vem me perseguindo desde o dia 15 de maio de 1988, data do encontro e decidi rever minha história como jornalista, arquivada em duas pastas e uma maleta e me surpreendi ao constatar que o companheiro de Goiás tinha razão: o jornalista é mesmo um pobre miserável rico.

Depois de abrir meu arquivo de lembranças, conclui que o colega jornalista de Goiás tinha total razão! Iniciando a carreira, arquivava as publicações assinadas. Você, talvez, já tivesse percorrido feito um longo caminho, apesar ainda apresentar jovialidade em um corpo atlético, por trás de um óculos! Decidi rever as duas pastas e uma maleta para relembrar a vida material de jornalista. Abertas, recordei que como no passado, colegas jornalistas também viajam pelo mundo, se hospedam em melhores hotéis, comem das melhores comidas, bebem das melhores bebidas, mas com pouco dinheiro na carteira! É...Peninha! Você era um filósofo da profissão e eu não sabia, embora estivesse sentado ao meu lado, falando de vez em quando em meu ouvido! Como também viajava muito, com mochila às costas, minha mãe, Josefa Costa, quase não me via e dizia que eu parecia um rico, hospedando-me em hotéis 5 estrelas, assistindo bons espetáculos teatrais, cobrindo festivais de música. Em uma dessas vezes, passei cinco dias comendo pizza, macarrão ou lasanha, na cidade do Rock In'Rio. Depois, recebi ordem para embarcar para a Argentina, mas não havia passagem e dormi na Rodoviária para pegar um ônibus. Fiz a matéria para a qual fui designado, cumprindo minha pauta!

Convidado para escrever sobre o lançamento de um caminhão da Volks, na década de 80, na Hípica do RJ, me desloquei com outros profissionais de vários Estados e ficamos hospedados no Hotel cinco estrelas Cad!Oro. Durante o lançamento, um jornalista da Bahia protestou contra o brócolis inteiro cozido no vapor colocado à frente de todos como entrada, dizendo aos gritos que não tinha saído de seu Estado para “comer comida de cavalo na Hípica do Rio de Janeiro”. A entrada foi imediatamente retirado pelos garçons a um gesto discreto de cabeça feito por um diretor presente e, de imediato, servido carne ao molho madeira. Na noite, um ônibus muito confortável estava à porta do Hotel e levou os jornalistas que quiseram a um teatro para assistir ao show musical de Tony Ramos, interpretando músicas de Chico Buarque de Holanda. Serviram uísque e caldo de caranguejo. Comi e bebi de tudo e, ao voltar para o hotel dormi dentro da banheira, com uma toalha escorando a cabeça e acordei com o telefone tocando da portaria. Vi que a banheira já estava cheia de vômito e pedi desculpas a quem foi limpar o apartamento pela manhã. Ao acordar sonhava que uma pedra de gelo pressionava meu estômago, mas vi que era apenas a água da banheira. Como vomitei e não me engastei com meu próprio vômito? Não sei e também não lembro porque estava bêbado e apaguei!

No Hotel, os jornalistas convidados receberam um rádio portátil e uma carta do marketing da empresa, dando boas vindas, mas ficaram revoltados com a informação de que só se poderiam pedir por dia uma água, uma cerveja ou refrigerante, que nada do frigobar do hotel poderia ser consumido, porque pagariam. Como, se ninguém tinha dinheiro? Decidiram em uma rápida reunião: “antes de deixarmos o Hotel, subiremos juntos ao restaurante, pediremos as melhores bebidas e depois, todos assinaremos uma nota só e a Volks terá que pagar”. Assim foi feito, porque marcamos até o horário e o local em que todos deveríamos nos encontrar. A empresa deve ter pago a conta, mas nunca mais promoveu lançamentos convidando jornalistas. Viajava sempre com bagagem dentro de uma mochila presa às costas para não perder muito tempo em Aeroportos. Era um mochileiro!

Guardadas em uma pasta Amway preta, revi o passaporte vencido desde a última viagem que fiz à Venezuela para cobrir a primeira tentativa de golpe militar pelo coronel Hugo Chavez contra o presidente eleito da época, a carteira da “Internacional Press Card”, emitida no dia 19.09.2002, pela da FENAJ, com a qual me apresentava em viagens por países da América Latina. Revi fotos antigas, usando cabelo e barba negras longas, recuperada e a mim presenteada pelo amigo de infância e adolescência e hoje advogado Luiz Eron Castro Ribeiro, sentado ao lado da professora de Religião do Colégio Dorval Porto, Sandra Brandão, canhotos de eleições nas quais votei, poemas e crônicas publicadas em jornais de Manaus, diplomas de recursos feitos, principalmente como diretor do SEST/SENAT, troféus, placas, medalhas e comendas literárias recebidas, guardadas em uma maleta. O poema, “Minha Saudade”, sem data, publicado no Jornal do Comércio em Manaus, dedicado a minha esposa Yara Queiroz, que viajava pelo Rio de Janeiro, me chamou especial atenção, pela beleza da arte em preto e branco de uma pessoa sozinha.

Fiz uma viagem no tempo só para dizer que ao amigo Peninha, que ele tinha total razão: “todos os jornalistas são pobres miseráveis ricos” sim! Não sei por onde você anda agora, mas essa crônica é para o companheiro, lembrando de sua figura de tênis e calça jeans, em nosso encontro pela primeira e última vez.

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 29/01/2015
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