O FUTURO CHEGOU
Enquanto o doutor Brown surgia dirigindo um carro voador, para logo depois correr apressado até o perplexo Marty McFly, os meus olhos permaneciam grudados na tela do cinema. Era o ano de 1989 e o filme “De volta para o futuro 2” prosseguia contando a saga do rapaz que voltou ao passado e depois retornou ao futuro numa aventura alucinante. Apesar do filme ser de 1989, toda a trama se passa quatro anos antes, em 1985. No seu jeito aloprado, Doc Brown esclarece ao jovem Marty a razão do seu dilema: “Precisamos partir para o ano de 2015, seus filhos correm perigo.” Sem muito pensar, Marty embarca na viagem através do tempo e logo surgem os primeiros sinais do que seria o futuro, o longínquo ano de 2015. E vemos surgir pessoas usando roupas de plásticos, munidas de aparelhos inovadores, como o relógio de pulso que prevê o tempo com exatidão, tênis que se ajustam sozinhos, robôs no lugar dos velhos e simpáticos frentistas, outdoors com imagens em terceira dimensão, entre outras novidades que o roteiro do filme previu. Mas o que mais chamava a atenção eram os carros que voavam e o skate que flutuava. Quando o filme acabou, fiquei por instante paralisado e impressionadíssimo. Desejei aquele skate na ânsia de uma criança. As imagens não saíam dos meus pensamentos, fiquei por um bom tempo com as vistas no futuro, imaginando o que estaria fazendo dali a trinta anos. Minha nossa, serei um senhor de cinqüenta anos! Pensei assustado. E me pegava imaginando quantas aventuras iria enfrentar até que viessem os trinta anos do filme, incomodado no início porque o meu skate não voava e os carros prosseguiam a rasgar as velhas ruas de asfalto. Aos poucos algumas previsões do filme foram se concretizando: a porta que se abre ao contato com o calor dos nossos corpos, a câmera digital que tira fotos perfeitas e que se revelam no mesmo instante, a TV de tela plana, o computador portátil, os filmes em terceira dimensão. Enfim o futuro chegou trazendo conseqüências boas e ruins; hoje sou mais contemplativo, não carrego a ansiedade de antes, ao invés de acelerar, freio as emoções e me apego no desejo que a vida demore a passar, acampado na serenidade que adquiri com o passar dos anos. Por outro lado, não há remédios contra os males físicos causados pelo tempo: envelhecemos, esquecemos o nome e até o rosto de pessoas que antes eram importantes, nos acostumamos com remédios, açúcar e sal se tornam nossos inimigos, o tempo, tão malvado, carrega depressa os dias e assombra a calmaria. Restam alguns suspiros de saudade das coisas e pessoas que perdemos. E agora me pego imaginando mais trinta anos adiante. Serei um velhinho simpático, ou não, brigando com as cataratas e o leve tremor no corpo, inconformado com os carros voadores que cruzam acelerados o céu, saudoso do antes, em que se dirigia pelas estradas de chão, mantendo na mente quase vazia o desejo de voltar no tempo e ser criança outra vez.